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China utiliza velhos truques para obter recursos militares na América Latina, diz revista militar dos EUA ligada ao SOUTHCOM

por Sociedade Militar Publicado em 29/06/2023
China utiliza velhos truques para obter recursos militares na América Latina, diz revista militar dos EUA ligada ao SOUTHCOM

A revista Diálogo Américas é mantida pelo comando Sul das Forças Armadas norte-americanas e tem como público alvo principal os militares da América Latina que são aliados históricos dos Estados Unidos, como Brasil, Peru e Bolívia. A publicação, que foi lançada por determinação do Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos da América, pública todos os artigos em português inglês e espanhol e oferece oportunidade para que militares das nações amigas enviem seus artigos, o que ajuda muito a atrair publico para o site.

Nos últimos meses percebe-se, como mencionado nesse artigo na Revista Sociedade Militar, uma escalada no número de artigos que apontam consequências nocivas de acordos e aproximações de países da América Latina com a China, como obras com objetivos estratégicos – militares ocultos, perda da autoridade para reprimir crimes contra a segurança nacional cometidos pelos chineses, como a pesca ilegal etc.

O artigo abaixo, publicado essa semana pela Diálogo Américas é interessante para quem deseja entender mais sobre o tema e ter uma maior percepção sobre como a influência chinesa sobre a América Latina está incomodando os militares norte americanos.

“Hoje, com o declínio de sua economia, a China está procurando obter recursos para sua indústria de defesa, que está em ascensão em relação a outros setores.”

China na América Latina: investimentos, empréstimos e perda de soberania 

A atividade econômica chinesa na América Latina está mudando. O foco na obtenção de acesso aos recursos naturais do hemisfério, que impulsionou seus investimentos durante a primeira década e meia do século, expandiu-se a um portfólio que inclui empresas de geração de energia renovável, telecomunicações, distribuição de eletricidade e inclusive viagens compartilhadas.

“A economia da China está mudando porque atualmente está em declínio”, disse à Diálogo Joseph Humire, diretor executivo do think tank americano Centro para uma Sociedade Livre e Segura, em 4 de junho. “Hoje, com o declínio de sua economia, a China está procurando obter recursos para sua indústria de defesa, que está em ascensão em relação a outros setores.”

Velho truque

O investimento direto do país asiático não tem necessariamente o objetivo de industrializar os países da região, mas de obter acesso direto às suas matérias-primas, destacou o Diario Financiero do Chile.

“As transações dos últimos anos mostram uma orientação crescente para os mercados internos […]”, disse à Bloomberg Enrique Dussel Peters, investigador e coordenador do banco de dados de investimentos chineses, compilado pela Rede Acadêmica da América Latina e do Caribe sobre a China. “A velha lógica do investimento chinês de comprar minas pelos minerais e portos e ferrovias para transportá-los, agora funciona junto com outra motivação: encontrar novos mercados menos desenvolvidos para crescer.”

“O acesso da China aos recursos da América Latina tem o custo da perda de soberania“, acrescentou Humire. “A China não está interessada apenas, por exemplo, na concessão de uma mina, mas também da terra onde a mina produz.”

Exploração de vulnerabilidades

Um exemplo recente dessa estratégia foi evidenciado durante uma viagem de uma delegação argentina à China. Em uma reunião entre o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e o principal assessor do regime chinês na América Latina, Qiu Xiaoqi, em 1º de junho, em Pequim, Xiaoqi explicou as aspirações estratégicas do seu país. “A China quer ser o parceiro complementar da Argentina”, disse; também enumerou as vantagens que detém e que a China está monitorando cuidadosamente a fim de fortalecer seu desembarque na América Latina, para obter energia, alimentos, minerais e tecnologia, relatou Infobae.

No caso do Panamá, o embaixador chinês no país, Wei Qiang, reiterou várias vezes o interesse especial da China em setores como energia, mineração, recursos naturais e comércio.

“A China está desenvolvendo uma política agressiva de investimentos em áreas-chave da economia panamenha”, disse à BBC Euclides Tapia, professor sênior da Escola de Relações Internacionais da Universidade do Panamá, em 31 de maio. “Fundamentalmente, aproveita a posição geográfica do Panamá como um nó no sistema de comércio global.”

Outro caso é o de Honduras, que está recebendo investimentos da China para uma barragem hidrelétrica e para explorar projetos ferroviários e portuários. Em março, Honduras, altamente endividada, citou “pressões financeiras” em sua decisão de estabelecer laços diplomáticos formais com a China e cortar os laços que mantinha com Taiwan.

“O que está sendo buscado por meio do relacionamento com a China é o investimento para superar os desafios que o país enfrenta”, disse Rodolfo Pastor de María y Campos, secretário de Estado de Honduras, a The New York Times. O país tem uma dívida de mais de US$ 20 bilhões. O ministro das Relações Exteriores de Honduras, Eduardo Enrique Reina, acrescentou que se tratava de “pragmatismo, não de ideologia”, informou Reuters.

Uma dúzia de países enfrentam instabilidade econômica e até mesmo colapso sob o peso de centenas de bilhões de dólares em empréstimos estrangeiros, muitos dos quais provenientes do maior e mais implacável credor governamental do mundo: a China, acrescentou Infobae.

Estrutura de transparência

“Cada vez são mais os países que estão em dificuldades financeiras terríveis”, disse Brad Parks, diretor executivo do think tank AidData do College of William & Mary, que descobriu milhares de empréstimos chineses secretos, informou Infobae. “De alguma forma, a China consegue fazer tudo isso fora da vista do público […]; portanto, a menos que as pessoas entendam como a China empresta, como suas práticas de empréstimo funcionam, nunca resolveremos essas crises.”

O argumento dos EUA é que é melhor fazer negócios sob a perspectiva da transparência, dentro de uma estrutura de Estado de Direito e igualdade de condições, permitindo boas escolhas sobre quais contratos realmente funcionam, disse à BBC Evan Ellis, investigador de estudos latino-americanos do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA.

“A atitude que deveriam adotar os países com apetite por investimentos chineses é a de diversificar economicamente”, disse Humire. “Dessa forma, não são entregues todas as concessões e todas as dívidas à China, caso contrário, isso significa entregar seu país.”
POR GUILLERMO SAAVEDRA/DIÁLOGO

Robson Augusto – Revista Sociedade Militar 

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