Brasília, 10 de julho de 2023 – Uma sombra do passado voltou a atormentar o Deputado Federal General Girão, figura emblemática que no passado se encontrou no centro de conflito polêmico contra a política indigenista da esquerda brasileira. O oficial, hoje deputado federal, agora se vê alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF), por supostamente ter incentivado atos antidemocráticos, uma acusação grave que pode conduzi-lo a sérias implicações legais e até a perda do mandato.
Em 2007-2009, durante a crise da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, como pode-se conferir em artigo publicado na Revista Sociedade Militar, o então general de brigada Eliezer Girão se opôs à ordem do então presidente Lula. Ao lado de outros generais, como Augusto Heleno, Girão se posicionou contra a demarcação contínua da reserva, propondo em vez disso – como solução – uma série de “ilhas” separadas. A postura, considerada um gravíssimo ato de desobediência, acarretou em uma acusação de “organização de ato político” por um repórter da Globo.
O oficial general foi subsequentemente transferido para Brasília, onde em seguida optou por sua transferência para a reserva remunerada, em um movimento que foi visto por muitos como o fim precoce de uma carreira promissora, já que o militar poderia ter ascendido até o posto de General de Exército, último posto da carreira militar no Exército Brasileiro.
Anos mais tarde, as eleições de 2022 trouxeram o antigo antagonista de Girão, Lula, de volta ao poder, após uma acirrada corrida eleitoral contra o então presidente Jair Bolsonaro. Durante e após a campanha, Girão fez declarações fortes e as mesmas – interpretadas por autoridades – são base de acusações de ter incentivado pessoas a tentar implementar ações antidemocráticas.
No início de 2023, atos de violência e vandalismo ocorreram nas sedes dos três poderes, levando a uma situação de caos que foi interpretado como intencional, uma tentativa de criar-se um “estopim” para uma intervenção militar.
Nesse momento a Polícia Federal solicita a abertura de inquérito para investigar a conduta de Girão antes e durante estes eventos. Em particular, autoridades apontam para uma série de publicações e declarações feitas pelo deputado entre 8 de novembro de 2022 e 10 de janeiro de 2023. Além disso, um discurso feito em dezembro em um acampamento de conservadores em Natal está sendo particularmente destacado pelos investigadores. O Deputado federal General Girão, em um momento, disse: “Então, todo mundo aqui eu espero que tenha sido bom filho, bom pai, bom irmão, boa esposa e aí botem o sapatinho na janela que Papai Noel vai chegar essa semana. Acreditem em Papai Noel. Pode até ser camuflado também”.
Segundo a investigação, a fala poderia ser interpretada como um sinal de que as Forças Armadas estariam para agir a qualquer momento.
A Procuradoria-Geral da República encampou o pedido da PF e, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a instauração de um inquérito sobre a conduta de Girão. As plataformas sociais foram orientadas a fornecer à PF metadados das publicações sob suspeita e uma nova pesquisa nas redes de Girão foi solicitada para identificar outras eventuais postagens com indícios dos crimes sob apuração.
O deputado deverá ser ouvido sobre o caso, para “esclarecer o que considerar pertinente”. A investigação terá duração inicial de 60 dias, podendo ser prorrogada.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar