Em um cenário geopolítico já conturbado, a crescente influência da China no hemisfério ocidental tem sido motivo de preocupação para os Estados Unidos. Atualmente os chineses não tem capacidade plena de empreender uma grande operação militar na América Latina por conta da dificuldade logística que isso implicaria. Entretanto, recentemente, informações revelaram que China e Cuba estão em negociações avançadas para a construção de uma instalação militar. A infraestrutura permitiria a presença permanente de tropas chinesas em Cuba, ampliando a já existente rede de instalações de espionagem do país asiático na ilha e podendo gerar um ponto de apoio permanente para tropas, armamento e logística em geral.
A estratégica localização de Cuba, bem próxima ao porto de Nova Orleans, torna-se também um ponto de interesse para a China. Joseph Humire, diretor executivo do Centro para uma Sociedade Livre e Segura, destacou que o grande porto é parte vital de uma cadeia de suprimentos que se estende pelo rio Mississippi. Uma base militar chinesa em Cuba poderia, teoricamente, interromper essa cadeia norte-sul, fortalecendo a cadeia de suprimentos sul-sul da China.
O anúncio da possível base militar chinesa em Cuba veio logo após a visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a Pequim em 19 de junho. A reunião teve como objetivo resolver as diferenças entre as duas potências, especialmente após incidentes como o dos balões espiões chineses que sobrevoaram os Estados Unidos no início de 2023.
Além disso, em junho, The Wall Street Journal também informou que China e Cuba haviam firmado um acordo para estabelecer uma base de espionagem na ilha. Posteriormente, Washington confirmou que instalações de coleta de inteligência chinesas já operavam em Cuba desde 2019.
Evan Ellis, investigador de Estudos Latino-Americanos da Escola Superior de Guerra dos EUA, mencionou rumores de que Cuba havia concedido à China acesso a uma base anteriormente operada pela Rússia desde 1999.
Em resposta a esses desenvolvimentos, Blinken afirmou que os EUA estão monitorando a situação de perto e tomando medidas para contrariar os esforços de Pequim. Ele expressou confiança na capacidade dos EUA de cumprir seus compromissos de segurança, tanto internamente quanto na região.
Humire ressaltou que a tentativa da China de estabelecer uma presença militar em Cuba faz parte de uma iniciativa maior, conhecida como Projeto 141. Esta iniciativa visa expandir as forças armadas chinesas, bem como seu poder político e econômico, como já observado em países como Etiópia, Mauritânia e Djibuti.
Finalmente, Humire concluiu que qualquer operação militar requer apoio logístico. A China, ao estabelecer uma presença em Cuba, começará por instalar infraestrutura logística militar, preparando o terreno para uma expansão mais ampla no futuro.
Essa situação pode realmente desencadear uma nova fase tensa nas relações geopolíticas e destaca a necessidade de vigilância e cooperação entre as nações do hemisfério ocidental. Países como Brasil e Argentina, que estão entre as maiores potências regionais, ainda não se posicionaram oficialmente sobre a questão, na medida em que China e Cuba ainda não tornaram publica a negociação.
Dados de: https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/o-plano-de-china-e-cuba-para-construir-uma-base-militar-ameaca-a-regiao/ , The Wall Street Journal e Revista Sociedade Militar — /// Robson – Revista Sociedade Militar