“Nossa parte no “jogo das nações”. Neutralidade exige força, e isso está sendo explicitado no mundo agora em diversos conflitos que estão ocorrendo…”, Tomás Miguel Miné, general de Exército, Comandante do Exército Brasileiro.

Sabatinado e confrontado por parlamentares na Câmara dos Deputados, o comandante do Exército foi visto em situação defensiva, algo raro e que deixa claro que as Forças Armadas perderam bastante status diante da classe política. Ainda assim, colocando as questões da polarização política para outro momento, acompanhado pela Revista Sociedade Militar, do evento foi possível extrair que há deficiências importantes que devem gerar franca preocupação com as condições de nossas forças armadas em várias frentes importantes, entre elas a defesa antiaérea e capacidade de dissuasão.
Tomás Miguel Miné explica que para nos manter como nação neutra, para não nos enxergarmos em breve diante da necessidade nos agregarmos a um ou outro lado dos conflitos geopolíticos que se desenrolam no planeta, é necessário que o Brasil seja um país poderoso. O general usa os conflitos atuais como ilustração para a situação brasileira e se focou em três capacidades que são problemáticas para o Brasil: defesa antiaérea, capacidade de dissuasão e poder de choque.
Tomás mencionou a defesa da cidade de Kiev, que não foi arrasada por que têm um sistema de defesa antiaéreo eficaz. O militar explicou que, da previsão orçamentária para a construção de um sistema de defesa antiaéreo, que é de 4.1 bilhões de reais, o país executou apenas 10.7% do total e que em 2024 o gasto foi de apenas 0.53% do total esperado.
Bateria antiaérea
“Quanto à defesa antiaérea, nós estamos relativamente protegidos em relação à baixa altura, até 3 mil metros de altura, mas, à média altura, nós não temos nada. Então, nós precisamos de uma solução para a média altura. E isso está em vias de se tratar. Estamos buscando parceria internacional. Para os senhores terem uma ideia, uma bateria antiaérea de média altura impediu a destruição de Kiev, no conflito da Ucrânia. Todo mundo esperava que fosse ser muito rápida essa destruição, já se passaram 2 anos, e isso não ocorreu, porque uma bateria antiaérea eficiente impediu sua destruição pelas aeronaves russas, muito superiores em termos de geossupremacia aérea.
Elas não conseguiram destruir a cidade por conta da atuação dessa bateria antiaérea. Nosso projeto antiaéreo. Existe a previsão de 4,1 bilhões de reais, e nós, até agora, executamos 10,7%. Nesse ano, executamos 0,53% do total, ou seja, demorará muito tempo para conseguirmos. Se não houver alguma coisa extra, não vamos atingir esse objetivo, que é um objetivo importante para um País de dimensão continental como o nosso.”
Capacidade de dissuasão
No quesito capacidade de dissuasão, o general explicou que o Exército estaria relativamente adiantado: “o nosso principal armamento estratégico hoje é o ASTROS, um sistema de mísseis e foguetes, que tem como origem a AVIBRAS, uma imprensa que, como os senhores sabem — possivelmente no debate vai surgir pergunta —, está em recuperação judicial. Mas esse projeto está relativamente adiantado.
Do total de 2,4 bilhões de reais, já foi consumido 1,47 bilhão de reais, ou seja, 60% já estão executados. Em 2023, executamos 1,9% do total. O principal projeto, além do sistema de mísseis e foguetes, é o Míssil Tático de Cruzeiro. O Míssil Tático de Cruzeiro coloca o Brasil num patamar diferenciado entre as nações. São poucas as nações, sete ou oito, que produzem Míssil Tático de Cruzeiro. Esse foi o armamento utilizado agora no conflito entre Irã e Israel. Então, a última parte do ataque é o Míssil Tático de Cruzeiro. É um míssil teleguiado, que tem a possibilidade de atingir um alvo com até 9 metros de precisão e voa 300 quilômetros.
Um Míssil Tático de Cruzeiro é um embrião. Depois ele vai se transformar num míssil supersônico; depois, no último estágio de armamento convencional, está o mais importante, que é o míssil hipersônico.
Poder de Choque
O comandante do Exército explicou que o país tem uma quantidade razoável de blindados, mas deixou claro que o mesmo está ficando defasado e que não há muitas opções de aquisições no mundo. Disse que de um orçamento de 30.5 bilhões o país gastou apenas 1.53% do total necessário.

na Operação Roraima (Foto: Exército Brasileiro)
“Nós temos Forças Blindadas sediadas de Ponta Grossa para o sul. As principais brigadas estão em Santa Maria e em Ponta Grossa. Essas já são antigas. Há um projeto de recuperação ou de substituição desses blindados. O mundo inteiro está procurando blindado. Eu fiz agora uma viagem de intercâmbio para a França e para a Polônia. A Polônia está caminhando a passos largos para se tornar a força armada principal da Europa. Estão comprando tudo o que existe no mundo. Então, não há produto em prateleira. Esse mercado está muito aquecido. O nosso blindado tem um sistema logístico sustentável, muito bom, mas ele está ficando defasado, bastante defasado, uns 20 anos, em relação a outros países. Então, precisamos modernizá-lo.
Nós já gastamos 12,25% desse projeto, num total de 30,5 bilhões de reais. Nesse ano de 2023, foram gastos 1,53% do total.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar