Os Estados Unidos estão no centro de uma das mais ambiciosas reformas militares das últimas décadas: a modernização completa de seu arsenal nuclear. Com um estoque estimado de 3.700 ogivas nucleares, das quais 1.770 estão implantadas e prontas para uso imediato, o país soma ainda 1.930 em reserva estratégica e cerca de 1.477 aposentadas, aguardando desmantelamento, de acordo com um relatório publicado no site The Bulletin of the Atomic Scientists. No total, o inventário norte-americano atinge a impressionante marca de 5.177 ogivas nucleares.
Modernização trilionária
A renovação das forças nucleares norte-americanas, prevista para as próximas três décadas, deve consumir entre US$ 1,2 trilhão e US$ 1,7 trilhão, segundo estimativas do Congressional Budget Office. Além de substituir todos os sistemas de lançamento nuclear por versões mais modernas, os EUA também estão desenvolvendo novas armas, como as bombas de gravidade B61-12 e B61-13, que utilizam componentes das ogivas atualmente aposentadas.
O processo, no entanto, enfrenta desafios logísticos e financeiros. A taxa de desmantelamento de armas antigas caiu significativamente nos últimos anos: enquanto na década de 1990 os EUA desmantelavam mais de 1.000 ogivas por ano, em 2023 o número foi de apenas 69, o menor desde então. Ainda assim, a Usina Pantex, no Texas, acelerou seus esforços em 2024, superando metas e concluindo, por exemplo, o desmonte de todas as 400 ogivas W84, após 15 anos de trabalho.

Onde estão as ogivas?
As armas nucleares norte-americanas estão espalhadas por cerca de 24 locais em 11 estados e cinco países europeus. O maior arsenal está no Complexo de Armazenamento de Munições e Manutenção Subterrânea de Kirtland, no Novo México, onde grande parte das ogivas aposentadas aguardam desmantelamento. Outra base estratégica é a de Kitsap, no estado de Washington, que abriga submarinos de mísseis balísticos com o maior número de ogivas implantadas em todo o país.
Na Europa, cerca de 100 bombas táticas estão armazenadas em bases aéreas de países aliados, um número que mantém a influência estratégica dos EUA no continente.
Mudanças na política nuclear
O programa de modernização nuclear dos EUA ocorre em um momento de crescentes tensões geopolíticas, com a Rússia e a China no centro das preocupações estratégicas de Washington. Em 2023, o relatório da Strategic Posture Commission sugeriu que os EUA aumentem suas ogivas implantadas, considerem o desenvolvimento de mísseis balísticos móveis e reforcem sua capacidade de produção de armas estratégicas.
Embora essas recomendações não sejam oficiais, têm gerado apoio em setores conservadores do governo. A tendência, aponta o relatório, é que os EUA busquem “competir com a Rússia e a China sem acelerar a instabilidade da corrida armamentista”.
Uma superpotência nuclear
Com 400 ogivas em mísseis balísticos intercontinentais, 970 em submarinos, 300 em bombardeiros estratégicos e 100 bombas táticas na Europa, os EUA reafirmam seu papel como uma das principais potências nucleares globais. O relatório da Federação de Cientistas Americanos, assinado por Hans M. Kristensen, Matt Korda e outros especialistas, destaca que o arsenal norte-americano continuará sendo um dos pilares de sua estratégia de segurança nacional, mesmo diante de desafios financeiros e políticos.
O futuro, no entanto, depende de como o país equilibra as demandas de modernização, a pressão orçamentária e a necessidade de estabilidade estratégica global. O artigo completo está disponível em The Bulletin of the Atomic Scientists.