A divulgação de novos áudios pela Polícia Federal revelou detalhes inéditos sobre uma suposta articulação de um suposto golpe de Estado planejado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Generais do Alto Comando do Exército entraram em cena para proteger um dos seus: o general da reserva Estevam Theophilo. As gravações confirmam que a minuta era real e que Bolsonaro reduziu seu escopo na tentativa de convencer militares da ativa a aderirem ao plano.
A Folha de S.Paulo revelou que oficiais do Alto Comando se articulam para defender Theophilo no STF. Segundo a matéria, três generais afirmaram que estão dispostos a depor em favor do colega, caso ele se torne réu. A PGR denunciou Theophilo por aceitar “coordenar o emprego das forças terrestres” em um eventual golpe. Para sua defesa, os generais sustentam que ele apenas seguia protocolos institucionais e que não há provas diretas de seu envolvimento na trama.
Em documento enviado ao STF, o ex-comandante do Exército Freire Gomes alegou que Theophilo “sempre esteve voltado inteiramente à atividade militar” e que não se envolvia em política. O general Julio Cesar de Arruda reforçou que Theophilo era “disciplinado, honesto e leal”.

“O decreto é real”
A CNN Brasil, por sua vez, trouxe um áudio do general da reserva Mario Fernandes, preso desde novembro de 2024, confirmando que a minuta foi despachada diretamente com Bolsonaro. Em mensagem enviada ao general Luiz Eduardo Ramos, Fernandes disse: “O decreto é real, foi despachado ontem com o presidente”.
O áudio foi enviado no dia 7 de dezembro de 2022, mesma data em que Bolsonaro reuniu os comandantes militares para apresentar a minuta. Fernandes, que chegou a assessorar Eduardo Pazuello, também é acusado de arquitetar a morte de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.
O recuo do Exército e a insistência da Marinha
Já a revista Veja destacou áudios obtidos pela PF e divulgados pelo Fantástico, reforçando que a cúpula do Exército rejeitou a trama. O tenente-coronel Sérgio Cavaliere, em conversa com o coronel Gustavo Gomes, disse: “O Alto Comando não vai topar. A Marinha topa, mas só se tiver outra Força com ela”.
Outras gravações apontam que Bolsonaro reduziu a minuta para tentar convencer o então comandante do Exército, general Freire Gomes. Segundo Mauro Cid, “Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto”.
A busca por hackers e o fracasso da conspiração
Os áudios também indicam que os conspiradores tentaram manipular os dados das urnas eletrônicas, mas falharam. Mauro Cid foi gravado dizendo: “A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar. Monitorando e passando informações. Mas ninguém ainda chegou com uma coisa que consiga abrir uma investigação”.
Em outra gravação, um suposto hacker diz que buscou apoio político para validar fraudes: “Uma tia na mesma igreja da Damares, da ministra. Ela escutou e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro”.
O que não aconteceu
As revelações deixam claro que a trama só não obteve sucesso porque o Exército se recusou a apoiar a iniciativa. O coronel Bernardo Corrêa Netto disse em áudio: “Pode esquecer. O decreto não vai sair. O presidente não vai fazer, só faria se tivesse apoio das Forças Armadas, porque ele tá com medo de ser preso”.