Foi mais do que uma visita protocolar. No último dia 23 de abril, o comandante do Exército Brasileiro, general de divisão Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, desembarcou na Itália e abriu caminho para um possível salto estratégico na cooperação militar entre Brasil e Itália. Acompanhado pelo chefe do Estado-Maior do Exército Italiano, general de divisão Carmine Marcielo, o general brasileiro conheceu de perto os sistemas mais avançados da artilharia antiaérea italiana e os impressionantes blindados Centauro 2.
As informações foram reveladas por Roberto Caiafa em vídeo publicado no canal Caiafa Master, no YouTube, e mostram que a visita teve um caráter muito mais estratégico do que cerimonial.
Blindados de última geração e modernização em pauta
Durante a reunião com Marcielo, o comandante brasileiro recebeu um briefing sobre a atual estrutura do Exército Italiano, com destaque para a operação dos Centauro 2, blindados sobre rodas de 120 mm que colocam a Itália entre as forças terrestres mais preparadas da Europa.

Trata-se de um veículo com capacidades inéditas para o Brasil. Até agora, apenas dois exemplares de teste estão garantidos para o Exército Brasileiro. A possível aquisição de 96 unidades ainda depende de assinatura de contrato, prevista para 2025 — o que, segundo especialistas, é uma “janela de oportunidade que pode se fechar com as eleições de 2026”.
Defesa Antiaérea de média altura: CAMM-ER no radar
A visita incluiu também o Comando de Artilharia Antiaérea de Sabaldia, onde o general brasileiro teve acesso a sistemas de defesa de média altura que utilizam os mísseis Spada 2000, atualmente em processo de substituição pelos modernos CAMM-ER, fabricados pela MBDA.
Guiados por radares Skyguard da Rheinmetall Air Defense, os sistemas estão entre os mais eficazes da OTAN, combinando resposta rápida com alta letalidade contra ameaças aéreas. Também foi apresentada a operação com mísseis Stinger MANPADS, de curto alcance.
“O comandante do Exército Brasileiro conheceu toda a organização de defesa antiaérea de média altura utilizada pelo Exército Italiano”, destaca Caiafa, indicando que o Brasil pode estar de olho nessa solução.
Cooperação mais ampla no horizonte
O general italiano foi direto: “Compartilhamos os mesmos valores e, portanto, os mesmos objetivos: garantir a paz e a segurança dos nossos povos e contribuir para a afirmação do direito internacional”. O recado é claro — há espaço para aprofundar os laços militares.
A interoperabilidade entre os dois exércitos pode ser elevada a um novo patamar, especialmente se for firmado um acordo não apenas militar, mas também político e industrial. O Brasil já abriga a Iveco Defense Vehicles (IDV), responsável pela produção dos blindados Guarani e Guaicuru. Ampliar essa relação para incluir veículos de esteira, como o Centauro 2, seria um movimento natural e estratégico.
Guarani, Guaicuru e Centauro: uma tríade possível?
A presença da IDV no Brasil representa uma base sólida para expansão da cooperação. Atualmente, a empresa já fornece os blindados Guarani 6×6 e o LMV Guaicuru 4×4 para o Exército Brasileiro.
O Centauro 2, com seu poder de fogo muito superior, complementaria essas plataformas, oferecendo capacidade de combate direto e proteção blindada em níveis nunca antes integrados ao arsenal nacional.
Para isso, segundo Caiafa, “é fundamental que esse tipo de acordo tenha continuidade e fluidez”, lembrando que a definição do contrato ainda em 2025 é “agora ou nunca”.
E o Spada 2000? Brasil pode se interessar por sistema em desativação
Um ponto de atenção é o destino dos sistemas Spada 2000 que estão sendo substituídos. Ainda não se sabe se eles serão enviados à Ucrânia, doados ou oferecidos para compra.
Especialistas consideram que o Brasil poderia aproveitar essa transição para adquirir sistemas a custo reduzido, enquanto se prepara para eventualmente operar o CAMM-ER, considerado um dos mísseis antiaéreos mais modernos do mercado.
A Itália quer modernizar. O Brasil pode surfar nessa onda
Carmine Marcielo é o arquiteto da modernização do Exército Italiano. Sob seu comando, a força terrestre está recebendo atualizações tecnológicas robustas e novas doutrinas operacionais. Sua liderança no processo o torna figura-chave para qualquer acordo futuro com o Brasil.
“A visão para a força terrestre no século XXI”, como define Caiafa, pode muito bem inspirar os próximos passos da doutrina brasileira, que busca justamente uma renovação de meios e métodos.