Em uma movimentação militar de grande escala, os Estados Unidos deslocaram um quarto de sua frota de bombardeiros B2 Spirit, considerados os mais caros e letais do arsenal americano, para a ilha de Diego Garcia, localizada no Oceano Índico. A medida foi interpretada como um ultimato ao Irã diante de sua contínua colaboração com os rebeldes houthis no Iêmen, grupo acusado de promover dezenas de ataques a embarcações comerciais no Mar Vermelho desde o início de 2023. Essa ofensiva tem afetado diretamente a segurança das rotas marítimas globais e provocado prejuízos bilionários ao comércio internacional.
A base militar de Diego Garcia, controlada pelo Reino Unido e arrendada pelos Estados Unidos até 2036, se tornou o centro das atenções com a chegada dos bombardeiros furtivos, capazes de voar milhares de quilômetros sem serem detectados. As aeronaves partiram de território americano, realizaram paradas técnicas na Austrália para reabastecimento e seguiram para o destino final. Informações obtidas por meio de comunicações de rádio e imagens de satélite confirmam que ao menos três B2 já estão posicionados na ilha, acompanhados por aviões de transporte C-17 e aeronaves-tanque de reabastecimento aéreo.
A movimentação ganhou ainda mais repercussão após a confirmação de que as aeronaves utilizavam indicativos de chamadas temporários, como “PIT 11” e “Pitch 14”, usados em operações militares para manter o anonimato durante os voos. Outro bombardeiro, identificado como “Pitch 13”, precisou realizar um pouso de emergência no Havaí, enquanto uma quinta aeronave, com o indicativo “ABA”, também estaria a caminho. O conjunto dessas ações representa a mobilização de aproximadamente 25% da frota de B2 dos Estados Unidos, composta por apenas 20 unidades ativas.
Movimentação é resposta direta ao apoio iraniano aos houthis no Iêmen, responsáveis por mais de 130 ataques a navios desde o ano passado no Mar Vermelho
Com alcance superior a 11 mil quilômetros sem reabastecimento, o bombardeiro B2 Spirit pode atingir alvos no Irã a partir de Diego Garcia e retornar à base em segurança. Com reabastecimento aéreo, sua autonomia pode chegar a mais de 18 mil quilômetros, permitindo múltiplas rotas e manobras. Cada aeronave custa aproximadamente US$ 1,1 bilhão, o que coloca a operação atual em um patamar superior a US$ 5 bilhões em recursos mobilizados apenas com esses bombardeiros, sem contar o apoio logístico.
O B2 pode carregar tanto armamentos convencionais quanto nucleares. Em sua configuração convencional, ele transporta até 80 bombas de 230 kg ou 16 bombas de 900 kg. Em uma possível configuração nuclear, ele pode ser equipado com até 16 ogivas nucleares, incluindo bombas B61 e B83, específicas para penetração subterrânea. Embora o uso de armamentos nucleares seja considerado improvável no momento, a capacidade da aeronave reforça a ameaça implícita nas movimentações americanas na região.
O histórico do uso de Diego Garcia em operações militares inclui missões no Afeganistão, Iraque e outras ações estratégicas. Em 2020, por exemplo, após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, bombardeiros B52 foram enviados à ilha como forma de dissuasão. Agora, o cenário se repete, mas com aeronaves ainda mais avançadas e com o objetivo claro de pressionar o Irã diante de seu envolvimento com os houthis, grupo que os Estados Unidos acusam de desestabilizar o comércio marítimo global.
Os ataques dos houthis levaram à perda de US$ 200 bilhões na economia mundial e elevaram custos logísticos em até US$ 1 milhão por viagem marítima
Desde o ano passado, os houthis intensificaram suas ações contra navios que cruzam o Mar Vermelho, forçando embarcações comerciais a evitar o Canal de Suez e contornar o continente africano, o que representa um aumento médio de dez dias nas rotas comerciais entre Ásia e Europa. Estima-se que os prejuízos diretos causados pela mudança nas rotas tenham ultrapassado US$ 200 bilhões em 2024, com um custo adicional de cerca de US$ 1 milhão por viagem. Esse valor impacta diretamente os preços dos produtos comercializados, afetando consumidores em todo o mundo.
As ações dos Estados Unidos em resposta aos ataques se intensificaram nos últimos meses, com bombardeios a posições controladas pelos houthis no Iêmen. Alvos incluíram silos de mísseis, bases militares e lideranças do grupo. A ofensiva busca enfraquecer a capacidade de ação dos rebeldes e, ao mesmo tempo, enviar uma mensagem clara ao Irã sobre as consequências de continuar seu apoio militar e logístico ao grupo iemenita.
De acordo com a Fundação para a Defesa das Democracias, há fortes evidências de que o Irã fornece armas, mísseis e drones aos houthis. Em 2023, aproximadamente 500 navios iranianos foram registrados entrando em portos sob controle do grupo no Iêmen, indicando um fluxo constante de recursos e armamentos. O Reino Unido também documentou o contrabando de equipamentos militares iranianos para a região, fortalecendo a ligação entre Teerã e os ataques no Mar Vermelho.
Carta enviada por Trump ao Irã impõe prazo de dois meses para iniciar negociações sobre novo acordo nuclear; B2 seriam parte da pressão diplomática
Em 7 de março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou publicamente ter enviado uma carta ao líder supremo iraniano, Ali Khamenei, propondo a retomada das negociações para um novo acordo nuclear. Segundo o próprio presidente, o documento representa uma última tentativa diplomática antes de considerar ações militares mais diretas. A carta estabelece um prazo de dois meses para uma resposta formal do Irã, o que coincide com a movimentação estratégica das aeronaves para Diego Garcia.
Com essa medida, os Estados Unidos sinalizam estar prontos para agir, se necessário, mas ainda dispostos a buscar uma solução diplomática para conter o avanço nuclear iraniano e seu envolvimento nos conflitos da região. A presença dos B2 fora do alcance de mísseis iranianos é parte da estratégia de pressão, mostrando que o país dispõe de meios eficazes para realizar ataques com baixa vulnerabilidade em caso de necessidade.
Especialistas da região, no entanto, demonstram ceticismo quanto à eficácia da estratégia americana. Analistas apontam que, embora o poder aéreo represente uma vantagem tecnológica significativa, ele não é suficiente para controlar territórios ou vencer movimentos insurgentes profundamente enraizados em ideologias locais. O grupo houthi, por exemplo, defende abertamente o confronto com os Estados Unidos como parte de sua identidade religiosa e política, e pode se fortalecer internamente ao usar a ofensiva americana como justificativa para ampliar seu recrutamento e influência regional.
A informação sobre o deslocamento dos bombardeiros para Diego Garcia foi inicialmente divulgada pelo site especializado The War Zone, em um relatório publicado em 26 de março. O portal identificou, por meio de imagens de satélite recentes, a presença das aeronaves e destacou a importância da base como ponto estratégico para operações no Oriente Médio. O relatório foi posteriormente confirmado por outras fontes abertas, análises de especialistas em defesa e também pelo canal Realidade Militar, que repercutiu os dados e ampliou o alcance das informações junto ao público brasileiro.
Diante do cenário, empresas de navegação continuam evitando o Mar Vermelho, mesmo com a intensificação dos ataques americanos contra posições houthis. As rotas alternativas, embora mais longas e dispendiosas, oferecem maior segurança no momento. Isso reforça o impacto prolongado do conflito, que deve continuar afetando o comércio global e pressionando governos a buscar soluções diplomáticas ou militares para restaurar a estabilidade na região.