Nos bastidores de uma das regiões mais vigiadas do continente, um novo movimento dos Estados Unidos reacende os holofotes sobre uma antiga suspeita: o Hezbollah estaria operando com liberdade e grande lucratividade na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.
Segundo informações da ”CNN Brasil”, o governo norte-americano, por meio do Departamento de Estado, anunciou uma recompensa de até US$ 10 milhões para quem fornecer informações confiáveis sobre as redes financeiras da organização xiita libanesa na América do Sul.
A iniciativa faz parte do programa Rewards for Justice, que há quatro décadas atua no rastreamento de ameaças internacionais ligadas ao terrorismo.
Dessa vez, o foco está bem próximo das fronteiras brasileiras.
Por que os EUA estão de olho na Tríplice Fronteira?
A Tríplice Fronteira, onde Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina) se encontram, é considerada por serviços de inteligência como uma área de intensa movimentação ilegal e vulnerável à ação de grupos extremistas.
Com presença reduzida do Estado e alto fluxo de pessoas e mercadorias, a região tornou-se, ao longo dos anos, um terreno fértil para atividades de contrabando, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e falsificação de documentos, práticas atribuídas a organizações transnacionais.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o Hezbollah estaria infiltrado na região, movimentando milhões de dólares através de empresas de fachada, redes comerciais, venda de imóveis e transações financeiras ilegais.
A recompensa oferecida busca atrair delatores, colaboradores ou mesmo funcionários dessas estruturas que possam fornecer provas concretas contra indivíduos ou empresas ligadas à organização.
Quem é o Hezbollah e por que ele estaria no Brasil?
O Hezbollah é um grupo político-militar de origem libanesa, apoiado diretamente pelo Irã, e classificado pelos Estados Unidos como uma organização terrorista desde 1997.
Embora tenha atuação política no Líbano, o grupo é acusado por vários países de envolvimento em atentados terroristas, como o ataque à AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em Buenos Aires, que matou 85 pessoas em 1994.
Para os serviços de inteligência americanos, o Hezbollah atua fora do Oriente Médio principalmente para arrecadar fundos e sustentar suas atividades no Líbano e em outros países da região.
O Brasil seria um dos pontos estratégicos dessa operação financeira, devido à presença de grandes comunidades libanesas e muçulmanas nas regiões de fronteira, que historicamente mantêm conexões comerciais intensas.
Como funcionam as denúncias e o programa de recompensas
O Rewards for Justice é uma iniciativa criada pelo governo dos EUA em 1984 e já pagou mais de US$ 250 milhões em recompensas para informantes que ajudaram a desmantelar redes terroristas ou impedir atentados ao redor do mundo.
As denúncias podem ser feitas de forma anônima e sigilosa, com garantia de proteção ao denunciante.
O programa aceita informações por diferentes canais, incluindo aplicativos seguros, e está vinculado diretamente ao Departamento de Estado.
A publicação mais recente sobre o Hezbollah foi feita no perfil oficial do programa na rede X (antigo Twitter), onde os EUA destacaram a presença do grupo na Tríplice Fronteira e o esforço para combater suas fontes de financiamento.
O bilhão do Hezbollah e o papel do Irã
De acordo com o governo dos EUA, o Hezbollah arrecada anualmente cerca de US$ 1 bilhão por meio de repasses estatais do Irã, doações internacionais, redes de apoiadores e atividades criminosas.
O Irã é apontado como principal financiador e fornecedor logístico da organização, inclusive com o envio de armamentos e treinamento militar.
A relação entre Teerã e o Hezbollah é estratégica para o avanço da influência iraniana no Oriente Médio e, cada vez mais, em outros continentes.
Essa expansão preocupa países ocidentais e tem motivado diversas ações de inteligência e diplomacia por parte dos EUA e seus aliados.
O Brasil reconhece a ameaça?
Embora não classifique oficialmente o Hezbollah como grupo terrorista, o Brasil tem cooperado com investigações internacionais, especialmente nas regiões de fronteira.
Em 2023, a Polícia Federal realizou operações contra redes de apoio ao Hezbollah em São Paulo e no Paraná, com mandados de prisão e apreensão de materiais suspeitos.
Fontes ligadas à segurança nacional brasileira apontam que há monitoramento constante sobre grupos estrangeiros com atuação financeira irregular, mas evitam declarações públicas sobre a presença do Hezbollah.
Analistas políticos acreditam que o Brasil mantém uma postura discreta para preservar relações diplomáticas com países do Oriente Médio e evitar conflitos diretos com potências como Irã e Líbano.