O cenário da segurança europeia passa por transformações profundas, impulsionadas por desafios geopolíticos e a necessidade de maior autonomia defensiva.
Segunda informações do portal ”R7”, nesta terça-feira, 13 de maio de 2025, o presidente francês Emmanuel Macron surpreendeu o mundo ao manifestar abertura para discutir o envio de armas nucleares para outros países do continente europeu.
Essa posição inédita levanta debates sobre soberania, alianças e a própria configuração da defesa coletiva europeia.
Macron deixou claro que essa possível transferência de armamento nuclear dependerá de condições rigorosas, incluindo que os países receptores tenham poder de decisão sobre o uso das armas.
Esse movimento tem o potencial de transformar a arquitetura militar da Europa, especialmente diante da crescente incerteza sobre o comprometimento dos Estados Unidos com a segurança do continente.
De acordo com dados oficiais divulgados em 2024, a França possui aproximadamente 280 ogivas nucleares, sendo uma das principais potências nucleares da OTAN.
Essa quantidade confere à França um papel estratégico significativo na dissuasão de ameaças globais, e a possibilidade de compartilhar esse arsenal é um passo ousado.
Macron e a nova estratégia de defesa europeia
Em seu discurso, Macron destacou que a França pretende definir nas próximas semanas as diretrizes para as negociações envolvendo a partilha de armas nucleares.
Essa iniciativa ocorre em um contexto onde a União Europeia busca aumentar sua independência militar, em parte motivada pelo enfraquecimento das garantias de segurança oferecidas pelos Estados Unidos.
O presidente francês enfatizou que a França está disposta a atuar para garantir a proteção dos seus vizinhos europeus que estejam em risco de ataques nucleares ou biológicos.
Essa declaração reforça a visão de Macron sobre a necessidade de uma Europa mais unida e autônoma em questões de defesa, capaz de responder aos desafios sem depender exclusivamente de potências externas.
A proposta de um exército europeu
Conforme análise de Igor Lucena, doutor em relações internacionais, o contexto atual exige mudanças profundas na defesa do continente.
Lucena destaca que a saída parcial dos Estados Unidos da cena europeia obriga os países do bloco a investirem massivamente em suas próprias capacidades militares.
“Para compensar a retirada do apoio dos Estados Unidos à União Europeia, será necessário um investimento superior a 1 trilhão de euros em gastos militares nos próximos anos”, afirmou Lucena em entrevista ao Conexão Record News.
Esse volume de recursos poderia sustentar a criação de uma força militar europeia integrada, que funcione como um verdadeiro exército comum.
O conceito de exército europeu, embora antigo, ganha força em meio a crises recentes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, que evidenciou fragilidades na defesa coletiva.
Para Lucena, a criação desse exército unificado “pode se tornar uma realidade em breve, dadas as pressões geopolíticas e as demandas por segurança”.
A França como protagonista da defesa nuclear europeia
A decisão da França em abrir mão do monopólio sobre seu arsenal nuclear indica uma nova postura estratégica.
Historicamente, a França manteve uma política rigorosa de controle absoluto sobre suas armas nucleares, consideradas essenciais para sua soberania nacional.
Permitir que outros países da União Europeia participem da gestão e uso dessas armas envolve complexas negociações diplomáticas e jurídicas, especialmente em relação à responsabilidade pelo uso ou desuso do armamento.
Esse movimento pode significar o início de uma integração mais profunda das políticas de defesa europeias, alinhando interesses e fortalecendo mecanismos de dissuasão.
Analistas militares indicam que esse passo pode ajudar a consolidar uma identidade estratégica europeia, que vá além das tradicionais alianças como a OTAN.
Contexto geopolítico e ameaças emergentes
O ambiente internacional atual apresenta riscos múltiplos que pressionam a Europa a revisar seus conceitos de defesa.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, mostrou a Europa vulnerável a conflitos de alta intensidade em seu território.
Além disso, o crescimento da influência da China no cenário global, com sua postura assertiva no Pacífico e além, aumenta as preocupações de segurança entre os países ocidentais.
O avanço tecnológico também cria novas ameaças, como ataques cibernéticos, guerras híbridas e o risco de proliferação de armas de destruição em massa.
Nesse cenário, a França pretende assumir um papel de liderança, oferecendo seus recursos nucleares como forma de garantir a segurança coletiva europeia.
Essa estratégia também busca responder à pressão de países da Europa Oriental, que se sentem ameaçados por potências vizinhas e clamam por garantias concretas.