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A nata do Exército no banco dos réus: general Heleno, o único Tríplice Coroado vivo, depôs como réu ao lado de Bolsonaro e Garnier

Augusto Heleno se cala diante de Alexandre de Moraes

por Sociedade Militar Publicado em 11/06/2025
A nata do Exército no banco dos réus: general Heleno, o único Tríplice Coroado vivo, depôs como réu ao lado de Bolsonaro e Garnier

Nesta terça-feira, 10 de junho de 2025, o General de Exército na reserva Augusto Heleno prestou depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), como um dos réus indiciados na investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022. O militar foi ouvido em um dos processos criminais em andamento no STF, que reúnem provas e depoimentos relacionados à articulação de medidas ilegais para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Augusto Heleno integra o núcleo de denunciados que inclui também o ex-presidente Jair Bolsonaro e o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha. A Procuradoria-Geral da República sustenta que eles teriam participado de um plano que envolveria setores das Forças Armadas, a propagação de desinformação e o uso político de instituições públicas para contestar o resultado eleitoral.

Augusto Heleno é um tríplice coroado

Nascido em 29 de outubro de 1947, Augusto Heleno tem uma carreira militar marcada pela distinção. Foi um dos raríssimos oficiais a conquistar o título de “tríplice coroado” — denominação reservada àqueles que ocuparam o primeiro lugar nos três cursos mais importantes da formação militar: a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). O oficial recebeu, portanto, a medalha Marechal Hermes três vezes.

Diz Everton Araújo dos Santos em seu texto A Elite do Exército, publicado na revista de Ciências Sociais da UNESP: “O primeiro colocado em um desses cursos recebe a Marechal Hermes com uma coroa, se for primeiro colocado em dois recebe a segunda coroa e se for primeiro nos três recebe a terceira coroa. Assim é chamado de oficial coroado, bicoroado ou tríplice coroado, respectivamente. Neste último caso se forma uma verdadeira lenda, como no caso do general João Batista de Oliveira Figueiredo, oficial de Cavalaria tríplice coroado que chegou a presidente da República”.

Apenas dois militares alcançaram essa distinção: João Baptista Figueiredo, último presidente do regime militar, e o próprio general Augusto Heleno.

A nata do exército no banco dos réus heleno um tríplice coroado é réu no STF
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Heleno não respondeu a Alexandre de Moraes

Por isso, seu depoimento teve um peso simbólico especial. Ao contrário do que se poderia imaginar, Heleno optou por não responder diretamente às perguntas formuladas pelos ministros do Supremo Tribunal. Seguindo orientação de seu advogado, respondeu apenas a questões previamente selecionadas por sua defesa. Ele não respondeu, por exemplo, às perguntas feitas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito.

Nas poucas falas, em resposta a questionamentos de seu advogado, o general afirmou que nunca defendeu qualquer ação ilegal e negou que tenha cogitado ou sugerido a adoção de medidas contrárias à legalidade democrática. Segundo ele, “realmente não havia oportunidade, e o presidente, com as declarações dele, cortou essa possibilidade”. Acrescentou ainda: “Nunca quis dar a entender que poderia-se agir ilegalmente”.

O general foi ouvido após o Almirante de Esquadra Almir Garnier, que também negou envolvimento em qualquer proposta de golpe e declarou não ter discutido com Bolsonaro medidas de ruptura institucional. Garnier foi apontado por delatores como possível apoiador de ações que visavam impedir a posse do presidente eleito, o que ele refuta.

O título de tríplice coroado, carregado por apenas dois nomes em toda a história do Exército Brasileiro, tendo Heleno como único personagem vivo com esse título, ganha uma camada adicional de significado neste contexto. O primeiro deles, João Figueiredo, encerrou sua presidência com a frase “me esqueçam”. O segundo, Augusto Heleno, comparece agora ao Supremo como réu em uma das investigações mais sensíveis desde a redemocratização do país e permanece calado diante das perguntas do Ministro Alexandre de Moraes.

Nas redes sociais, sua presença no banco dos réus tem sido descrita como “a nata do Exército no banco dos réus”, expressão que traduz o impacto simbólico da situação para a imagem das Forças Armadas.

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