‘Bora pro mar’: marinha do Brasil aposta em inteligência artificial e linguagem gamer para conquistar jovens e mudar o cenário do alistamento militar
Com linguagem inspirada em videogames e imagens geradas por inteligência artificial, a nova campanha da Marinha aposta em ação, aventura e estética digital para capturar a atenção de adolescentes e jovens brasileiros que vivem conectados ao universo gamer.

Em uma era em que os olhos dos adolescentes e jovens adultos estão cada vez mais voltados para telas, avatares e realidades digitais, a Marinha do Brasil resolveu sair da bolha tradicional e se reinventar.
Longe dos discursos formais, das marchas e dos uniformes engomados, a nova campanha da força naval brasileira surge com uma proposta ousada e inesperada.
No lugar de palavras de ordem e solenidades, entra em cena uma narrativa visual baseada em inteligência artificial, estética gamer e ação cinematográfica.
O resultado é uma peça de 60 segundos que mergulha de cabeça na linguagem dos “nativos digitais”, ou seja, a geração que cresceu em frente ao computador, ao celular e ao console de videogame.
Segundo informações da ”CNN Brasil”, a campanha lançada neste domingo (8), busca capturar o imaginário juvenil por meio de uma estética moderna e provocadora, posicionando a carreira militar como uma aventura real — e não apenas como uma profissão tradicional ou um dever cívico.
Do sofá ao submarino: uma convocação visual
No vídeo, criado especialmente em comemoração ao Dia da Marinha, celebrado em 11 de junho, um adolescente aparece imerso em um jogo de ação, que termina em “game over”.
É nesse momento que a peça propõe uma virada de chave.
Com um convite direto e provocativo — “Quer aventura de verdade? Bora pro mar. Vem pra Marinha” — a campanha rompe com o universo virtual para apresentar a realidade das operações navais.
A partir daí, a peça se transforma em uma sequência visual intensa: navios de guerra, submarinos, missões de resgate, viaturas militares e ação em alto-mar, tudo isso representado por meio de imagens criadas com inteligência artificial.
Essa tecnologia foi utilizada para compor ambientes e personagens hiper-realistas, que remetem à estética dos grandes games de guerra e ficção científica.
Segundo oficiais envolvidos na produção, essa foi a primeira vez que a Marinha usou IA de forma central em uma campanha publicitária.
Tecnologia e juventude: aposta para conter a evasão militar
Além de mirar na estética moderna, a Marinha também tenta responder a um problema real e crescente: a dificuldade de reter jovens nas fileiras das Forças Armadas.
Oficiais de alta patente, ouvidos sob reserva, afirmam que os apelos tradicionais de patriotismo, estabilidade ou disciplina já não têm o mesmo impacto sobre os adolescentes da geração Z.
A nova campanha, portanto, surge como uma tentativa de reposicionar a imagem da carreira militar, agregando um novo tipo de valor simbólico: o da aventura, da emoção e da identidade digital.
Segundo esses relatos, há uma preocupação crescente com a fuga de talentos e o desinteresse de parte da juventude pela vida militar, especialmente em tempos em que a economia oferece alternativas tecnológicas mais bem remuneradas e com maior liberdade pessoal.
Mudança de tom após polêmica sobre privilégios
O novo vídeo marca também uma guinada estratégica na comunicação institucional da Marinha.
Em dezembro de 2024, uma outra campanha publicitária da força naval gerou controvérsia nacional, ao abordar diretamente o debate sobre os chamados “privilégios” dos militares.
Aquela peça foi interpretada por setores do governo como uma crítica velada à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelecia novas regras para a aposentadoria e reserva de integrantes das Forças Armadas.
O vídeo gerou ruído entre o Ministério da Defesa e o Palácio do Planalto, levando até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a manifestar insatisfação.
Na ocasião, o presidente teria reclamado pessoalmente ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que por sua vez atuou para apaziguar os ânimos junto ao comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen.
Desde então, a comunicação da Marinha passou por uma reavaliação completa, com foco em evitar atritos políticos e recuperar sua imagem pública.
A nova campanha, portanto, evita qualquer menção a pautas políticas ou institucionais e foca exclusivamente no público-alvo jovem, com uma linguagem emocional e inspiradora.
A era da guerra pela atenção
Ao investir em inteligência artificial, narrativa gamificada e ritmo cinematográfico, a Marinha mostra que compreende um dos maiores desafios das instituições públicas em 2025: disputar atenção com o entretenimento digital.
Campanhas desse tipo já são usadas por outras forças armadas pelo mundo, como nos Estados Unidos, onde o Exército e a Força Aérea utilizam canais no TikTok, YouTube e Twitch para promover alistamentos e mostrar o dia a dia da vida militar.
No Brasil, essa estratégia ainda engatinha, mas o novo vídeo da Marinha pode inaugurar uma nova fase da comunicação institucional das Forças Armadas.
Com um orçamento modesto, mas impacto visual alto, a campanha aposta no “boca a boca digital” e no compartilhamento espontâneo em redes sociais para ganhar tração.
O objetivo é claro: mostrar que há aventura fora das telas — e que ela pode começar com uma farda azul e um chamado direto ao mar.
Nova fase do alistamento aposta em linguagem jovem e tecnologia
A campanha está sendo veiculada em canais digitais e emissoras de TV de alcance nacional.
A peça foi desenvolvida com apoio de agências de publicidade especializadas em público jovem e com consultoria de desenvolvedores de jogos.
A Marinha planeja integrar essa abordagem a outras iniciativas de recrutamento, como eventos em escolas técnicas, feiras de profissões e ações no metaverso militar, previsto para ser lançado ainda este ano.