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Índia revela sistema de defesa aérea comparável ao S-500 russo e ao THAAD americano, com interceptação de mísseis hipersônicos e aeronaves furtivas até 400 km

Projeto Kusha, desenvolvido pela DRDO, é aposta estratégica para proteger o espaço aéreo indiano contra ameaças de China e Paquistão com tecnologia nacional e precisão superior ao S-400

por Alves Publicado em 11/06/2025 — Atualizado em 10/06/2025
Índia revela sistema de defesa aérea comparável ao S-500 russo e ao THAAD americano, com interceptação de mísseis hipersônicos e aeronaves furtivas até 400 km

No dia 8 de junho de 2025, a Organização de Pesquisa e Desenvolvimento em Defesa da Índia (DRDO) anunciou o avanço do Projeto Kusha, um sistema de defesa aérea de longo alcance com capacidades comparáveis ao S-500 da Rússia e ao THAAD dos Estados Unidos. O programa visa proteger o espaço aéreo indiano contra ameaças modernas como mísseis balísticos, aeronaves furtivas e drones, com previsão de implantação entre 2028 e 2029.

Sistema nacional com múltiplas camadas e alcance estratégico

O Projeto Kusha, também chamado de ERADS (Sistema de Defesa Aérea de Alcance Estendido), é uma iniciativa 100% nacional que se insere na política “Atmanirbhar Bharat” de autossuficiência em defesa. Com três interceptores de alcances distintos (150 km, 250 km e até 400 km), o sistema foi concebido para preencher a lacuna entre o míssil MR-SAM, de 80 km, e o S-400 russo, atualmente com 400 km. O objetivo é ampliar a cobertura de áreas estratégicas contra ameaças aéreas modernas.

Os mísseis do Projeto Kusha possuem tecnologia hit-to-kill (HTK), guiagem dual com radar e sensores infravermelhos, e probabilidade de acerto superior a 85% com um disparo e 98,5% em disparos duplos. O sistema está preparado para neutralizar ameaças como caças de quinta geração, mísseis balísticos antinavio de Mach 7, drones e mísseis de cruzeiro de baixa assinatura.

Além dos mísseis, o sistema integra o Long Range Battle Management Radar (LRBMR), um radar em banda S com alcance superior a 500 km, capaz de detectar alvos em profundidade no território inimigo. Esse componente permite alerta antecipado e resposta rápida a ataques múltiplos e coordenados.

Integração com outras defesas e uso naval previsto

O Projeto Kusha será integrado ao sistema nacional de comando e controle IACCS (Integrated Air Command and Control System), funcionando de forma coordenada com outras defesas já em uso, como os sistemas Akash, Barak-8 e S-400. A interoperabilidade será um ponto-chave para ampliar a efetividade da arquitetura defensiva indiana.

No ambiente marítimo, a Marinha da Índia pretende incorporar os interceptores M1 e M2 em seus futuros destróieres de próxima geração. Esses navios contarão com um novo radar de 6×6 metros, quatro vezes maior que o dos navios Visakhapatnam, com alcance de até 1.000 km, voltado para a detecção de mísseis antinavio e alvos furtivos. O foco está no fortalecimento da segurança naval no Indo-Pacífico, região de crescente tensão militar.

A arquitetura de defesa em camadas incluirá ainda integração futura com os mísseis balísticos AD-1 e AD-2 do programa indiano de defesa antimísseis. Essa conexão permitirá enfrentar não apenas ameaças táticas, mas também mísseis balísticos de médio alcance e alvos hipersônicos em estágios futuros do programa.

Tecnologia de ponta e autonomia estratégica

Entre os diferenciais tecnológicos do Kusha estão o uso de inteligência artificial para tomada de decisões em tempo real, processando dados de radares, satélites e aeronaves AWACS. Os interceptores M1 e M2, com apenas 250 mm de diâmetro, se destacam pela leveza e precisão, sendo mais compactos que modelos ocidentais como o SM-2 e SM-6. O M3, de maior alcance, poderá ter até 450 mm e será voltado a mísseis balísticos.

O projeto recebeu aprovação do Comitê de Segurança do Gabinete (CCS) em 2022, com orçamento estimado de ₹21.700 crore (US$ 2,6 bilhões) para cinco esquadrões da Força Aérea Indiana. O custo por unidade é significativamente inferior ao dos cinco sistemas S-400 adquiridos por US$ 5,25 bilhões, demonstrando a relação custo-benefício da solução nacional.

A DRDO lidera o desenvolvimento, com participação da Bharat Electronics Limited (BEL), responsável pelos radares e sistemas de comando. Os mísseis são desenvolvidos pelo Defence Research and Development Laboratory (DRDL), enquanto o Research Centre Imarat (RCI) atua no desenvolvimento dos sistemas de guiagem e buscadores.

Avanço estratégico com potencial de exportação

O avanço do Projeto Kusha também responde diretamente à necessidade de reduzir a dependência de fornecedores externos, especialmente após os atrasos nas entregas dos S-400 em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia. O programa fortalece a capacidade de resposta frente a ameaças de países vizinhos como China e Paquistão, que vêm modernizando seus arsenais aéreos e de mísseis.

Com a previsão de início da produção de protótipos entre o fim de 2026 e meados de 2027, e testes operacionais até 2029, o cronograma é considerado desafiador, mas estratégico para a modernização das forças armadas indianas. A capacidade de engajar alvos furtivos, supersônicos e até hipersônicos poderá colocar a Índia entre os líderes em tecnologia de defesa aérea.

Além do uso interno, o Kusha poderá tornar-se um produto competitivo no mercado internacional. Países em busca de sistemas alternativos aos modelos russos e americanos poderão se interessar por sua combinação de preço mais acessível, tecnologia moderna e adaptação às necessidades asiáticas e do Oriente Médio.

Comparativo entre o Projeto Kusha e os principais sistemas de defesa aérea do mundo

🇮🇳 Projeto Kusha (Índia)

  • Alcance: até 400 km (M3), com futuras versões superiores

  • Camadas de defesa: múltiplas (150 km, 250 km, 400 km)

  • Tecnologia: hit-to-kill (HTK), AI, dual-seeker (radar + IR), integração com IACCS

  • Radar: Long Range BMR (S-band, >500 km)

  • Integração: Akash, MRSAM, S-400, AD-1/AD-2

  • Fase atual: design concluído, testes e produção previstos até 2029

  • Destaque: 100% nacional, custo inferior e foco em ameaças regionais (China, Paquistão)

🇷🇺 S-400 Triumf (Rússia)

  • Alcance: até 400 km

  • Alvos simultâneos: 36

  • Tecnologia: mísseis com ogivas explosivas, radar AESA multi-faixa

  • Integração: limitada fora da doutrina russa

  • Destaque: já operacional em dezenas de países

🇷🇺 S-500 Prometey (Rússia)

  • Alcance: até 600 km (contra aeronaves); 200 km (contra ICBMs)

  • Capacidade: interceptar mísseis hipersônicos e satélites de baixa órbita

  • Tecnologia: radar multi-faixa, HTK, mísseis de múltiplos estágios

  • Status: fase de testes / início de implantação doméstica

  • Destaque: considerado o mais avançado sistema russo

🇺🇸 THAAD (EUA)

  • Alcance: ~200 km (altitude de interceptação até 150 km)

  • Foco: defesa antimíssil balístico (BMD), hit-to-kill

  • Radar: AN/TPY-2 (banda X, 1.000+ km)

  • Integração: com Aegis, Patriot e redes da OTAN

  • Destaque: proteção contra mísseis balísticos de médio alcance

🇺🇸 Patriot PAC-3 (EUA)

  • Alcance: até 160 km (versão MSE)

  • Alvos: aeronaves, mísseis balísticos, UAVs

  • Tecnologia: HTK, radar phased-array

  • Integração: amplamente utilizado por aliados dos EUA

  • Destaque: sistema comprovado em combate

🇮🇱 David’s Sling (Israel)

  • Alcance: 40 a 300 km

  • Alvos: mísseis de cruzeiro, foguetes, aeronaves

  • Tecnologia: dual-seeker, HTK, sistema de comando C3I avançado

  • Destaque: intermediário entre Iron Dome e Arrow 2/3

🇮🇱 Iron Dome (Israel)

  • Alcance: até 70 km (expansível para 100 km)

  • Foco: foguetes, projéteis de curto alcance

  • Tecnologia: radar EL/M-2084, mísseis Tamir

  • Destaque: alta taxa de interceptação de alvos de baixo custo

Imagem: Lockheed Martin

Na fase dois do programa, prevista após 2029, estão planejados novos interceptores com alcance superior a 400 km e capacidades contra mísseis hipersônicos. Essa próxima etapa será voltada à defesa contra ameaças futuras, como plataformas de ataque stealth e mísseis de manobra altamente velozes, reforçando a dissuasão indiana.

A consolidação do Kusha como pilar da defesa nacional contribuirá para a autonomia tecnológica da Índia e a posicionará como exportadora global de sistemas de defesa. A integração com marinha, força aérea e sistemas táticos terrestres será essencial para sua eficácia total.

A informação foi divulgada por “Eurasiantimes” e complementada com dados públicos disponíveis de órgãos como DRDO, Ministério da Defesa da Índia, imprensa internacional e documentos técnicos sobre sistemas antimísseis comparáveis.

Alves

Alves

Profissional com formação militar adquirida no Exército Brasileiro e experiência nas áreas de gestão administrativa e logística, com atuação no setor industrial, especialmente na indústria cervejeira. Participei do programa Empretec (SEBRAE), voltado à formação de empreendedores com foco em inovação, e sou capacitado em Gestão Financeira, com ênfase em controle orçamentário e apoio à tomada de decisões estratégicas. Atualmente, colaboro com o portal Sociedade Militar, onde escrevo artigos voltados a assuntos militares, defesa, segurança, energia, ciência, tecnologia, inovação e geopolítica. Busco oferecer análises acessíveis, mas tecnicamente embasadas, tanto para profissionais da área quanto para o público geral interessado em assuntos estratégicos e de interesse nacional. Sugestões de pauta ou contato institucional: [email protected]