Palhaços chorosos?
“… Embora a nossa cultura cada vez mais aprecie isso, que chamamos aqui de sub-representação lúdica – muito utilizada por artistas “progressistas” – acreditamos que ao se aplicar no ativismo político na verdade é uma prática extremamente nociva e não tão inteligente quanto aparenta. Esse tipo de “representação” do quotidiano ou do sentimento de indignação acaba atenuando o efeito das próprias conclusões da sociedade e, por fim, desestimulando o confronto.
Tende-se a acreditar que a “critica inteligente” é o suficiente para mudar as coisas.
Quase sempre o ato de criticar de forma bem humorada o agressor, rir da “piada”, ou da própria desgraça se torna a única reação.
Chegou a hora de representar o dia-a-dia com exatidão e seriedade, de dizer o que realmente achamos, sem rodeios e maquiagens para “doer menos”. Sem risinhos, sem sambinhas e com disposição para permanecer de cara feia e lutando com indignação por tanto tempo quanto for necessário.
Enquanto estivermos representando e interpretando com a chamada “camaradagem” e bom humor as situações que deveriam gerar em nós sentimentos de grande repulsa e indignação estaremos convergindo para a falência moral de nosso país, cuja cultura imposta tem cada vez mais a propriedade de fazer com que transformemos falcatruas em comédias, atores em espectadores e malfeitores em simples palhaços, sempre nos induzindo a achar graça de nossa própria desgraça.
Se permanecermos assim no final tudo acabará em pizza e cerveja “.