Um novo estudo revelou que nódulos polimetálicos encontrados a 4.000 metros de profundidade no Oceano Pacífico produzem oxigênio em completa ausência de luz solar, uma descoberta que pode revolucionar nossa compreensão sobre a origem da vida na Terra e as potencialidades energéticas desses depósitos.
A pesquisa, publicada na revista Nature Geoscience, foi conduzida por Andrew Sweetman, ecologista marinho da Associação Escocesa de Ciências Marinhas, e sua equipe.
Esses nódulos, localizados na Zona Clarion-Clipperton (CCZ), uma vasta planície abissal entre o Havaí e a costa oeste do México, são conhecidos por suas riquezas em metais como níquel, manganês, cobre, zinco e cobalto.
Esses minerais são essenciais para a fabricação de baterias, o que levou alguns a apelidarem esses nódulos de “baterias em uma rocha”. No entanto, a nova pesquisa sugere que esses nódulos possuem um papel ainda mais crucial.
A descoberta de “oxigênio escuro” – oxigênio produzido em condições sem luz – pode mudar a narrativa sobre como a vida aeróbica começou na Terra.
Até agora, acreditava-se que a fotossíntese era a única fonte significativa de oxigênio, mas Sweetman e sua equipe demonstraram que os nódulos polimetálicos podem gerar oxigênio através de um processo de eletrólise da água do mar, alimentado por uma carga natural de cerca de 0,95 volts presente na superfície dos nódulos.
A pesquisa começou há mais de uma década, quando Sweetman notou níveis aumentados de oxigênio em sensores instalados na CCZ. Inicialmente, ele descartou os dados como erros de sensores, mas estudos subsequentes confirmaram que essa área produzia oxigênio de forma independente. Em 2023, uma pesquisa mostrou que várias bactérias e arqueias podiam criar oxigênio escuro.
Para testar se os nódulos eram a fonte, Sweetman recriou as condições da CCZ em laboratório, eliminando qualquer micro-organismo com cloreto de mercúrio. Mesmo assim, os níveis de oxigênio continuaram a subir.
Essa descoberta tem implicações significativas para a mineração em águas profundas. Empresas de mineração, como a Metals Company, veem os nódulos como a chave para a transição energética verde, devido aos seus ricos depósitos minerais.
No entanto, 25 países, representados pelo Conselho da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), estão pressionando por uma moratória ou uma pausa nas atividades de mineração para permitir mais pesquisas sobre os impactos ambientais dessa prática.
Lisa Levin, do Instituto Scripps de Oceanografia, não envolvida no estudo, ressaltou a importância de uma moratória. “A produção de oxigênio no fundo do mar por nódulos polimetálicos é uma nova função do ecossistema que precisa ser considerada ao avaliar o impacto da mineração em águas profundas”, comentou Levin.
A ISA continua negociando regulamentações para a mineração em águas profundas e deverá operar com um “roteiro de trabalho” até o final de julho de 2024. Essa descoberta sublinha a necessidade de mais pesquisas independentes para informar políticas que protejam os oceanos.
Enquanto o futuro dos oceanos do mundo chega a um momento crítico entre conservação e exploração, a ciência prova mais uma vez que perturbar esses ecossistemas pode ter consequências inimagináveis. A produção de “oxigênio escuro” pelos nódulos polimetálicos não apenas desafia o conhecimento atual, mas também oferece novas possibilidades para o entendimento da vida e das soluções energéticas em nosso planeta.
Artigo publicado primeiramente em SpaceNow