Com o aumento das tensões militares e geopolíticas no Leste Europeu, a busca por reforço na defesa aérea levou diversas nações do continente a estreitar laços com um dos principais exportadores de tecnologia bélica do mundo: Israel.
Desde o agravamento da guerra na Ucrânia, a sensação de vulnerabilidade passou a ditar o ritmo de decisões estratégicas em várias capitais europeias.
A crescente percepção de que a Rússia representa um risco imprevisível impulsionou governos da União Europeia a repensarem suas capacidades de defesa, especialmente contra ataques aéreos e mísseis de longo alcance.
Alemanha lidera corrida por escudos antimísseis
Segundo informações do portal ”Estadão”, a Alemanha se destacou ao anunciar a compra do avançado sistema Arrow 3, desenvolvido em parceria entre Israel e os Estados Unidos.
O acordo, avaliado em aproximadamente 3,5 bilhões de dólares, marca a maior venda militar da história de Israel.
O Arrow 3 foi projetado para interceptar mísseis balísticos fora da atmosfera terrestre, atuando como uma camada de defesa estratégica contra ameaças de longo alcance, inclusive nucleares.
Segundo o governo alemão, a aquisição faz parte de um projeto de segurança coletiva que inclui outros países europeus, dentro da iniciativa European Sky Shield.
Essa coalizão visa integrar os sistemas de defesa aérea de diferentes países da região, com foco em interoperabilidade e resposta rápida.
Israel ganha espaço como referência em segurança aérea
A eficiência dos sistemas israelenses, como o Domo de Ferro (Iron Dome), David’s Sling e o próprio Arrow 3, chamou atenção mundial após os conflitos contra o Hamas em Gaza, que se intensificaram a partir de outubro de 2023.
Esses sistemas demonstraram capacidade real de interceptação em cenários de ataques múltiplos e coordenados.
A combinação de sensores ultramodernos, inteligência artificial e mísseis de interceptação de última geração transformou Israel em um fornecedor confiável de soluções bélicas, principalmente para países em situação de risco.
Com esse histórico, além da Alemanha, outros países como Finlândia, Eslováquia e Chipre também formalizaram acordos para adquirir sistemas de defesa aérea com tecnologia israelense.
EUA ainda influenciam exportações israelenses
Apesar do destaque tecnológico, Israel ainda depende da aprovação dos Estados Unidos para exportar alguns de seus principais sistemas, como o próprio Arrow 3, que envolve tecnologia americana em seu desenvolvimento.
Essa limitação se deve aos acordos bilaterais de cooperação militar e transferência de tecnologia.
Os EUA, principais aliados estratégicos de Israel, têm forte influência sobre as exportações militares de componentes sensíveis.
No entanto, até o momento, a Casa Branca tem apoiado a expansão das vendas israelenses à Europa, vendo nisso uma forma de conter a influência russa sem mobilização direta de tropas americanas.
Conflito em Gaza gera críticas, mas não trava negócios
Apesar do êxito técnico e do interesse comercial, o governo israelense tem enfrentado críticas por sua atuação na Faixa de Gaza.
Diversas ONGs e representantes políticos europeus questionam o uso excessivo da força nos territórios palestinos ocupados.
Entretanto, essas críticas não impediram a continuidade das negociações e a formalização dos contratos.
Para muitos governos europeus, a segurança nacional se tornou prioridade absoluta diante das ameaças externas reais.
Esse pragmatismo geopolítico se sobrepõe, pelo menos por ora, às pressões diplomáticas e humanitárias.
A corrida armamentista silenciosa da Europa
Com o avanço da guerra na Ucrânia e o temor de que a Rússia amplie sua atuação contra países-membros da OTAN, a Europa tem investido cada vez mais em sistemas de defesa de médio e longo alcance.
Essa movimentação marca uma mudança no discurso de décadas, especialmente em países historicamente pacifistas, como a Alemanha.
Até recentemente, o governo alemão evitava grandes investimentos militares desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, a nova realidade geopolítica mudou completamente o panorama: a defesa passou de coadjuvante a protagonista nas políticas nacionais.