As relações militares entre Brasil e Estados Unidos têm sido um ponto de atenção e discussão dentro de diversos setores do governo brasileiro. Recentemente militares foram enviados à China para cursos e o próprio Comandante do Exército, General Tomás Miguel Miné, esteve na China, mas o Exército Brasileiro (EB) é reconhecido mundialmente como um aliado dos norte-americanos e o Serviço de Comunicação Social da força, como em contraposição aos questionamentos sobre as relações com os chineses, anunciou um estreitamento ainda maior de laços com militares dos EUA, provocando reações variadas.
Notável, também, foi a mudança no vocabulário utilizado pela comunicação social do EB, que agora se refere aos militares dos EUA como “militares estadunidenses”. Essa adaptação das Forças Armadas, sobretudo do Exército, à terminologia frequentemente usada pela esquerda política pode ser vista como um esforço do EB em se alinhar às sensibilidades políticas contemporâneas do novo governo do Brasil, alinhado com a esquerda mundial.
A nova fase dessa cooperação será marcada pela participação de militares brasileiros em um treinamento conjunto nos Estados Unidos, durante o mês de agosto. A operação, denominada CORE 2024 (Combined Operation and Rotation Exercise), reflete um compromisso contínuo entre as duas nações de fortalecer suas capacidades de defesa por meio de exercícios militares conjuntos.
CORE 2024: ampliação da parceria em ação
Sobre o CORE, o Exército explica, em publicação feita em 23/07/2024 na página principal da força na internet:
“Em 2021, o Exército Brasileiro e o Exército Americano realizaram o Exercício Culminating em solo estadunidense. Após a atividade, foi assinado um programa de cooperação que estipula exercícios bilaterais anuais até o ano de 2028. Os exercícios receberam a denominação de CORE, acrônimo em inglês para Operações Combinadas e Exercícios de Rotação. Os Exercícios CORE têm a participação de tropas das Forças de Prontidão do Exército Brasileiro. Os militares do País visitante são enquadrados em unidades do Exército anfitrião. Até agora, já foram desenvolvidas duas edições no Brasil, uma em São Paulo e a outra no Pará e no Amapá, e uma edição nos Estados Unidos.” (Transcrição de texto do Exército Brasileiro)
Especialistas do Exército Brasileiro em operações na selva amazônica, pertencentes ao 52° Batalhão de Infantaria de Selva (52º BIS) com sede em Marabá (PA), juntamente com elementos do Estado-Maior a nível de Batalhão e Brigada, irão se juntar a uma unidade da 101ª Divisão Aeroterrestre (101st Airborne Division) do Exército dos Estados Unidos. Esse intercâmbio proporcionará uma oportunidade valiosa para os militares brasileiros aprimorarem suas habilidades em um ambiente de treinamento avançado.
O treinamento ocorrerá no Fort Johnson, Louisiana, no Joint Readiness Training Center (JRTC), um dos principais centros de preparação e treinamento do Exército dos EUA. Este centro é conhecido por suas instalações de ponta e pela capacidade de simular uma ampla gama de cenários operacionais, o que permitirá aos militares brasileiros adquirir experiência prática e valiosa.
Já existe um histórico de cooperação entre os brasileiros e os norte-americanos
A história recente de cooperação militar entre Brasil e Estados Unidos é marcada por uma série de exercícios conjuntos que visam desenvolver a capacidade de operação combinada e aplicar conceitos operacionais modernos. Em 2021, por exemplo, o Exército Brasileiro e o Exército Americano realizaram o Exercício Culminating em solo estadunidense, o que culminou na assinatura de um grande programa de cooperação para exercícios bilaterais anuais que vão até 2028.
Este programa, denominado CORE, tem se mostrado um sucesso, com edições já realizadas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Em 2023, a CORE 23 foi conduzida nos estados do Pará e Amapá, demonstrando a flexibilidade e adaptabilidade das tropas envolvidas. Essas operações têm sido fundamentais para fortalecer os laços entre os dois exércitos e garantir que ambas as forças estejam prontas para enfrentar desafios conjuntos.
Impactos geopolíticos e políticos, não existe um vácuo
O aprofundamento da cooperação militar entre Brasil e Estados Unidos não ocorre em um vácuo político ou geopolítico. Em um momento em que as tensões globais estão em alta e alianças estratégicas são mais importantes do que nunca, a parceria entre essas duas nações envia um sinal claro de que pode haver um alinhamento e cooperação em setores militares. Para setores do governo brasileiro, especialmente aqueles mais alinhados com a esquerda, essa cooperação com os EUA deve ser vista com cautela, especialmente considerando a influência histórica dos Estados Unidos na América Latina e as relações comerciais com a China, que hoje é o maior parceiro econômico do país.
A guinada no linguajar e a escolha de termos como “militares estadunidenses” certamente vai incomodar setores da direita e pode ser interpretada como uma tentativa do Exército Brasileiro de mostrar sensibilidade às nuances políticas internas do Brasil. Ao adotar uma terminologia que ressoa mais com a narrativa da esquerda, o EB parece buscar um equilíbrio, tentando agradar setores de esquerda que relutam em apoiar a “política externa militar” que tradicionalmente está ainda mais alinhada com os EUA.
Benefícios da cooperação militar e a prontidão das tropas brasileiras
Para o Exército Brasileiro, os exercícios CORE são mais do que meras demonstrações de força; eles são uma plataforma para troca de conhecimento e aprimoramento de capacidades. Os militares brasileiros ganham acesso a tecnologias avançadas, técnicas de combate modernas e uma compreensão mais profunda das táticas usadas pelos seus homólogos estadunidenses. Esse intercâmbio não só melhora a prontidão e eficácia das tropas brasileiras, mas também fortalece os laços pessoais e profissionais entre os militares das duas nações.
Adicionalmente, a participação em exercícios como o CORE 2024 proporciona aos militares brasileiros a oportunidade de treinar em ambientes diversificados, algo que é crucial para a preparação em um mundo onde os teatros de operações são cada vez mais variados e imprevisíveis. A experiência adquirida em ambientes como o JRTC é inestimável, preparando as tropas para enfrentar uma ampla gama de desafios operacionais.