RSM - Revista Sociedade Militar
  • Página Inicial
  • Últimas Notícias
  • Forças Armadas
  • Defesa e Segurança
  • Setores Estratégicos
  • Concursos e Cursos
  • Gente e Cultura
RSM - Revista Sociedade Militar
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Início Defesa e Segurança História Militar

Há 37 anos o Brasil vivia um dos maiores acidentes radiativos do mundo e o motivo é surpreendente

Evento trouxe à tona a necessidade de regulamentações mais rígidas para o armazenamento e descarte de materiais radioativos.

por Anna Munhoz
20/12/2024
A A

Não foi uma guerra, mas o acidente radiativo ocorrido em setembro de 1987 no Brasil é considerado como um dos maiores desastres nucleares do mundo fora de uma usina nuclear, revelando fragilidades na gestão de resíduos radioativos no Brasil.

Como tudo começou

O episódio teve início em 13 de setembro de 1987, quando dois catadores de sucata encontraram um aparelho de radioterapia abandonado nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia. Sem saber da periculosidade do equipamento, que continha uma cápsula de cloreto de césio-137, eles levaram o objeto para desmontá-lo e venderem as peças.

A cápsula continha um pó de coloração azul brilhante, que despertou curiosidade e encantamento nas pessoas. Por desconhecimento, o pó foi manuseado, espalhado e até mesmo utilizado como um tipo de “adereço”, pois muitos acreditaram que se tratava de algo inofensivo e fascinante. O material foi distribuído entre familiares, amigos e vizinhos, expondo um número crescente de pessoas à radiação.

Os efeitos da radiação

Em poucos dias, começaram a surgir os primeiros sintomas de contaminação entre os que tiveram contato direto com o césio-137. Náuseas, vômitos, diarreia, queimaduras e queda de cabelo foram os sinais iniciais. A gravidade da situação se tornou evidente quando as autoridades de saúde começaram a conectar os casos de doenças a um evento comum: o contato com o misterioso pó azul.

Foi apenas em 29 de setembro que o acidente foi oficialmente identificado como um desastre radiológico, quando médicos e físicos nucleares determinaram que se tratava de uma contaminação radioativa. Nesse ponto, já era tarde para evitar os danos: o césio-137 havia se espalhado por diversas regiões da cidade, contaminando mais de 250 pessoas diretamente e causando a morte de pelo menos quatro delas, incluindo uma criança de seis anos.

A resposta ao acidente

A partir do momento em que a gravidade do acidente foi reconhecida, uma força-tarefa foi montada para conter a radiação e tratar os afetados. Casas e objetos contaminados foram destruídos ou enterrados em depósitos especiais. Milhares de toneladas de resíduos radioativos foram gerados no processo de descontaminação.

As vítimas foram transferidas para o Hospital Marcílio Dias coordenado pela Marinha do Brasil (HNMD), no Rio de Janeiro, especializado em radiologia, mas muitas enfrentaram tratamentos longos e dolorosos para minimizar os danos. A discriminação também se tornou um problema grave, já que os moradores de Goiânia passaram a ser estigmatizados, sofrendo preconceitos em outras cidades e estados por medo de contaminação.

De acordo com a Agência Marinha de Notícias, naquela época, o HNMD já contava com uma enfermaria de pacientes irradiados, resultado de convênio firmado em 1981 entre a Marinha do Brasil e Furnas Centrais Elétricas, instituição responsável pela construção da usina termonuclear Angra I, em Angra dos Reis (RJ). Mas a capacitação dos profissionais de saúde teve início ainda na década de 1970, com treinamentos de poucos Oficiais e Praças nas áreas de radioproteção e de emergências envolvendo acidentes nucleares.

“O fato de ser um hospital militar, de grande porte, com estrutura hierarquizada, capaz de dispor e mobilizar de forma rápida grande número de profissionais da área de saúde de diversas especialidades para o atendimento multidisciplinar foi decisivo para que o HNMD, desde aquela época, exercesse o protagonismo no que tange ao atendimento, em nível terciário, de pacientes radioacidentados”, explica o Chefe do Serviço de Medicina Nuclear do hospital, Capitão de Fragata (Apoio à Saúde) Rodrigo Setubal Wunder.

Impactos a longo prazo

O acidente radiativo de Goiânia deixou um legado duradouro. A cidade precisou lidar com as consequências sociais, econômicas e ambientais do desastre. Muitas das vítimas enfrentaram problemas de saúde crônicos, enquanto outras morreram anos depois devido às complicações da exposição à radiação.

Além disso, o evento trouxe à tona a necessidade de regulamentações mais rígidas para o armazenamento e descarte de materiais radioativos. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) passou a adotar medidas mais rigorosas para evitar novos acidentes, incluindo o monitoramento mais eficiente de equipamentos médicos obsoletos e de seus resíduos.

Avanços

Após mais de 30 anos, a medicina nuclear evoluiu e incorporou novas tecnologias, sendo acompanhada pelo hospital da Marinha. Atualmente, o hospital militar conta com equipamentos de tomografia computadorizada de alta precisão, capazes de avaliar a atividade metabólica das células e a função de diversos órgãos e tecidos. Eles permitem a detecção e o diagnóstico de doenças complexas, principalmente nas áreas de oncologia, cardiologia e neurologia, conforme explica a Agência Marinha de Notícias.

Atualmente, a enfermaria que recebeu os casos mais graves do acidente de Goiânia se tornou uma referência no tratamento de radioacidentados, com leitos de terapia intensiva, centro cirúrgico e laboratório, que operam dentro das normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Lições aprendidas

O caso de Goiânia é um exemplo doloroso de como a falta de informação e a negligência podem causar tragédias de grandes proporções. Ele também evidencia a importância da conscientização pública sobre os riscos associados a materiais radioativos e a necessidade de educar a população para identificar possíveis fontes de perigo.

Desde o trágico acidente, o Brasil nunca mais testemunhou algo semelhante. Em entrevista à Agência Marinha, o físico Walter Mendes disse que o País está preparado para lidar com situações do tipo. “O plano de emergência que a gente tinha era para ‘Angra I’, única central nuclear do País até então, e não para uma fonte violada no centro de uma cidade. Hoje, a gente tem um plano de emergência extremamente sofisticado”, garante o especialista.

Mesmo com todos os cuidados adotados desde o acidente, o caso de Goiânia permanece como um alerta sobre os cuidados necessários no manuseio de materiais perigosos e os impactos duradouros que um evento dessa magnitude pode causar. Embora as feridas físicas e emocionais ainda sejam sentidas por muitos, o caso é lembrado como um divisor de águas na segurança radiológica brasileira.

Ver Comentários

Artigos recentes

  • Devastador e silencioso: míssil mais poderoso do Exército Brasileiro pode destruir edifícios inteiros a mais de 300 quilômetros 01/06/2025
  • Panerai lança peça militar secreta, inspirada na Aviação Naval da Itália e feita para sobreviver a zonas de combate: Relógios inspiradores na marinha podem custar mais de R$ 200 mil, sendo um item de luxo no meio militar 01/06/2025
  • Europa em alerta: temor de Putin impulsiona investimentos bilionários de vários países em escudos de guerra israelenses para conter avanço da Rússia 01/06/2025
  • Chocado com o estado dos alojamentos nos quartéis dos EUA!: péssimas condições para os soldados geram reação dura do Secretário da Marinha dos EUA 01/06/2025
  • Ingresso como major, sem concurso e até 63 anos de idade: vagas para a Força Aérea direto como oficial superior 31/05/2025
  • Megaoperação da Força Aérea na Amazônia deve levar até 1.000 atendimentos médicos por dia para população ribeirinha 31/05/2025
  • A canibalização! O que acontece dentro do maior cemitério de aviões do planeta “The Boneyard” 31/05/2025
  • Administração e TI lideram vagas para concurso da Marinha: salário inicia com R$ 4 mil e ao final da carreira pode chegar até R$ 15 mil 31/05/2025
  • Braga Netto luta pela liberdade: defesa do oficial argumenta que não há mais sustentação para a prisão preventiva 30/05/2025
  • Fracasso no coração nuclear dos EUA: programa Sentinel afunda em caos técnico e país enfrenta colapso bilionário em projeto de mísseis intercontinentais 30/05/2025
  • Sobre nós
  • Contato
  • Anuncie
  • Política de Privacidade e Cookies
- Informações sobre artigos, denúncias, e erros: WhatsApp 21 96455 7653 não atendemos ligação.(Só whatsapp / texto) - Contato comercial/publicidade/urgências: 21 98106 2723 e [email protected]
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Conteúdo Membros
  • Últimas Notícias
  • Forças Armadas
  • Concursos e Cursos
  • Defesa e Segurança
  • Setores Estratégicos
  • Gente e Cultura
  • Autores
    • Editor / Robson
    • JB REIS
    • Jefferson
    • Raquel D´Ornellas
    • Rafael Cavacchini
    • Anna Munhoz
    • Campos
    • Sérvulo Pimentel
    • Noel Budeguer
    • Rodrigues
    • Colaboradores
  • Sobre nós
  • Anuncie
  • Contato
  • Entrar

Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.