Documentos da CIA recentemente liberados mostram que a agência de inteligência americana operava escritórios secretos em cinco capitais brasileiras: Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Esta revelação, parte dos arquivos sobre o assassinato de JFK liberados em 2025, apresenta um novo panorama sobre a extensão da influência americana no Brasil durante o período crítico que antecedeu o golpe militar de 1964.
A imagem compartilhada confirma essa informação, mostrando uma lista de distribuição de campo da CIA que inclui explicitamente essas cinco cidades brasileiras dentro da “Divisão WH” (Hemisfério Ocidental).

Duplo jogo na Guerra Fria
Enquanto documentos anteriores já haviam revelado ofertas de apoio militar de China e Cuba a Leonel Brizola e o treinamento de cerca de 400 brasileiros em campos cubanos, esta nova revelação sugere que os EUA mantinham uma presença muito mais forte no Brasil do que se imaginava anteriormente.
“Os documentos revelam que realmente havia uma ameaça de golpe comunista muito anterior a 1964 que gerava o sinal de alerta nos EUA e CIA sobre João Goulart e Leonel Brizola”, apontam os arquivos, destacando as ligações desses líderes com governos comunistas.
Sistema IPES/IBAD: A máquina por trás do golpe
Os escritórios da CIA no Brasil funcionavam em sincronia com o sistema IPES/IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais/Instituto Brasileiro de Ação Democrática), organizações financiadas por empresários brasileiros e americanos para combater influências comunistas no país.
Segundo a Wikipédia, “em entrevista concedida em 1998 à Folha de S.Paulo, o general reformado Hélio Ibiapina revelou que o IBAD possuía ligações com a Agência Central de Inteligência (CIA) estadunidense e que ele foi encarregado, pelo então Presidente da República, general Castelo Branco, de confirmar a veracidade dessa informação.”

Uma CPI realizada em 1963 apurou que “boa parte da documentação da entidade havia sido queimada pouco antes do início da investigação. Todavia, o que restou permitiu constatar que o financiamento do IBAD provinha principalmente de empresas estadunidenses”, conforme relata a Wikipédia.
Infiltração profunda na sociedade brasileira
De acordo com a Agência Brasil, a professora Camila Feix Vidal, especialista em relações entre Estados Unidos e América Latina, destaca que “o golpe é gestado muito antes a partir de vários instrumentos, sendo o principal deles o complexo Ipes/Ibad. Esse complexo trabalhou nos âmbitos da propaganda e da política, fazendo essa relação entre política, Forças Armadas, mídia e iniciativa privada com os empresários.”
O historiador René Dreifuss identificou em sua pesquisa, citada pela Agência Brasil, que cerca de 297 corporações americanas financiaram o complexo IPES/IBAD, incluindo gigantes como “Texaco, Shell, Standart Oil of New Jersey, Bayer, General Electric, IBM, Coca-Cola, Cigarros Souza Cruz e General Motors.”
Controle da mídia e opinião pública
Um aspecto particularmente alarmante revelado é o controle exercido sobre a mídia brasileira. Segundo informação da Agência Brasil baseada na obra de Dreifuss, “o Ipes conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública, através de seu relacionamento especial com os mais importantes jornais, rádios e televisões nacionais.”
A Agência Brasil também menciona que entre os veículos interligados ao instituto estavam grandes nomes como “O Estado de S. Paulo, a Folha de S.Paulo, os Diários de Notícias, a TV Record, a TV Paulista, o Jornal do Brasil, o Diário de Pernambuco, o Correio do Povo, O Globo, a Rádio Globo e os Diários Associados.”
Dois lados da moeda
As revelações levantam questões sobre quem realmente representava a maior ameaça à democracia brasileira naquele período. Talvez a ameaça comunista era resistência ao golpe, enquanto a verdadeira ameaça já estava instalada aqui com 5 escritórios secretos, sugere o material analisado.
A Agência Brasil relata que, após o golpe, “as principais lideranças do complexo Ipes/Ibad ocuparam cargos chaves na nova administração”, incluindo o recém-criado Banco Central, ministérios do Planejamento e da Fazenda, além da Casa Civil, ligada ao presidente Castello Branco.
Legado controverso
Os documentos recém-liberados continuam revelando camadas de complexidade sobre o período que moldou profundamente a história brasileira. A presença de escritórios da CIA em cinco capitais estratégicas levanta novas questões sobre até que ponto a política brasileira estava sendo influenciada por interesses estrangeiros.
Conforme destaca a professora Camila Feix Vidal à Agência Brasil, esses institutos “são braços de uma política externa dos Estados Unidos para a atuação no Brasil”, acrescentando que Washington “precisava manter aqui a sua influência e a sua hegemonia” durante a Guerra Fria.