Durante a Segunda Guerra Mundial, o salário base de um soldado raso dos Estados Unidos era de $50 por mês, valor equivalente a $600 anuais. Esse era o pagamento oficial de um “buck private” — o mais baixo grau do Exército americano. À primeira vista, esse valor parecia representar uma perda econômica significativa para muitos jovens que deixavam empregos civis com rendimentos superiores a $2.000 ou até $3.600 ao ano. No entanto, o governo norte-americano estruturou um sistema de benefícios e isenções que buscava compensar a diferença e garantir um sustento básico — e até competitivo — aos militares e suas famílias.
Isenção de impostos e benefícios não monetários
Conforme reportagem publicada pela revista Barron’s National Business and Financial Weekly, em 24 de abril de 1944, os soldados solteiros tinham suas necessidades básicas — como moradia, alimentação, assistência médica, uniforme e transporte — completamente cobertas pelo governo. Isso significava que, embora o salário nominal fosse baixo, os gastos pessoais também eram mínimos.
A média de despesas mensais com itens como lavanderia, higiene pessoal, entretenimento e produtos de uso comum ficava em torno de $15 mensais, ou $180 anuais, deixando uma renda líquida de aproximadamente $420 para o soldado — valor que, surpreendentemente, superava o que sobrava para muitos civis após impostos e custo de vida.
Civis com salários de $3.600, por exemplo — segundo dados apresentados ao House Ways and Means Committee — tinham despesas médias de $2.508 anuais apenas para cobrir necessidades básicas. Depois da dedução de impostos federais, essa renda líquida caía para cerca de $343. Em outras palavras, o soldado que aparentemente “ganhava menos”, terminava o ano com mais dinheiro disponível em seu bolso do que muitos trabalhadores do setor privado.
Benefícios adicionais para famílias e dependentes
Além disso, soldados podiam contribuir com parte do seu pagamento para garantir que suas famílias recebessem apoio financeiro através de subsídios governamentais. Um exemplo citado por Barron’s mostra que, ao contribuir com $22 mensais, um soldado conseguia que o governo adicionasse $46 mensais para seus pais — totalizando $816 por ano, valor isento de impostos. Isso era mais do que muitos civis conseguiam enviar para sustentar seus pais com a renda disponível.
Para soldados casados com filhos, o benefício era ainda maior. Um militar do mais baixo escalão, com esposa e dois filhos, recebia uma combinação de salário e auxílio que chegava a $1.356 por ano (ou $1.476 em caso de serviço no exterior), equivalente ao padrão de vida de uma família civil com rendimentos entre $1.600 e $3.400 — o que cobria a maior parte das famílias americanas da época.
Estrutura salarial por graduação e tempo de serviço
As tabelas salariais da época também mostram que os aumentos por tempo de serviço e por promoções podiam representar saltos significativos na renda dos militares. Segundo dados oficiais do site NavyCS, instituídos após o “Pay Readjustment Act of 1942”, soldados e marinheiros recebiam aumentos automáticos de 5% no salário base a cada três anos de serviço, até um limite de 30 anos. Um soldado de 7ª classe (equivalente ao E-1 de hoje) recebia:
- $50/mês com menos de 3 anos;
- $52,50/mês com mais de 3 anos;
- $55/mês com mais de 6 anos;
- $57,50/mês com mais de 9 anos.
Já um militar de 1ª classe (equivalente ao E-7 atual) poderia chegar a receber até $207 por mês, dependendo do tempo de serviço — valor mais de quatro vezes superior ao salário base inicial de um soldado raso.
Os oficiais também tinham faixas salariais definidas. Um tenente de 2ª classe (2nd Lt.), por exemplo, ganhava $166,67 por mês com menos de três anos, podendo chegar a $230 com mais tempo de serviço. Oficiais de patentes mais altas, como capitães e coronéis, podiam ultrapassar os $400 mensais com mais de 20 anos de serviço.
O G.I. Bill: o maior programa de benefícios para veteranos da Segunda Guerra Mundial
Em 1944, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Servicemen’s Readjustment Act, conhecido como G.I. Bill. Essa legislação ofereceu suporte inédito para a transição dos veteranos da Segunda Guerra Mundial de volta à vida civil.
Os principais benefícios incluíam:
- Educação gratuita: cobertura total de mensalidades e material escolar para faculdades, universidades e cursos técnicos. Mais de 7,8 milhões de veteranos utilizaram o benefício entre 1944 e 1956.
- Financiamento habitacional: empréstimos com juros baixos e sem entrada para compra de casas. Mais de 2,4 milhões de empréstimos foram concedidos nos primeiros anos.
- Subsídio de custo de vida: ajuda mensal enquanto o veterano estudava ou se requalificava profissionalmente.
O impacto do G.I. Bill foi profundo. Em 1956, mais da metade dos estudantes universitários nos EUA eram veteranos beneficiados pela lei. O programa é amplamente creditado como o motor da formação da classe média americana moderna e como fator fundamental para o crescimento econômico do pós-guerra.
Segundo o Department of Veterans Affairs (VA), os veteranos da Segunda Guerra Mundial também têm direito a uma série de outros benefícios: pensões, assistência médica, programas de reabilitação, financiamentos, seguros e compensações por exposição à radiação durante o serviço militar (casos como os chamados “Atomic Veterans”).