Em meio ao conflito que assola a Ucrânia desde 2022, uma realidade surpreendente tem se desenrolado nas linhas de frente: brasileiros se alistando como mercenários para combater ao lado das forças ucranianas.
Motivados por ideais de liberdade, desejo de aventura ou, em muitos casos, pela promessa de salários elevados, esses voluntários têm desempenhado papéis cruciais no cenário de guerra.
O fenômeno dos mercenários brasileiros na Ucrânia
A guerra na Ucrânia, desencadeada pela invasão russa em fevereiro de 2022, não atraiu apenas combatentes locais e europeus.
Cidadãos de diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, têm se unido às forças ucranianas, seja por convicções pessoais, seja pela busca por uma remuneração substancial.
Estima-se que, até o final de 2024, cerca de 46 brasileiros tenham se alistado como mercenários na Ucrânia.
Desses, 19 perderam a vida nos confrontos, 18 retornaram ao Brasil e 9 ainda permanecem em território ucraniano, conforme dados divulgados pelo Ministério da Defesa da Rússia.
Motivações e perfis dos voluntários
Os brasileiros que se alistam na guerra ucraniana possuem perfis diversos.
Há ex-militares, policiais, aventureiros e até simpatizantes de causas políticas.
Um exemplo é Alex Silva, instrutor de segurança paulista que reside na Ucrânia desde 2015.
Ele comanda um pelotão de voluntários, incluindo brasileiros, e compartilha suas experiências em um canal no Telegram com mais de 18 mil seguidores.
Em suas declarações, Alex destaca que muitos dos mercenários são solteiros, com idades entre 20 e 50 anos, e possuem experiência militar prévia.
Ele enfatiza que a principal motivação para se juntar ao conflito é a percepção de injustiça causada pelas ações militares russas na Ucrânia.
Remuneração e condições de trabalho
A compensação financeira é um atrativo significativo para os mercenários estrangeiros.
Especialistas indicam que os salários variam entre €500 e €3.000 mensais (aproximadamente R$ 2.664 a R$ 15.981), dependendo da função desempenhada e da proximidade com a linha de frente.
Além do salário base, alguns voluntários recebem bônus por missões específicas ou por tempo de serviço em áreas de alto risco.
No entanto, há relatos de que muitos mercenários precisam arcar com custos adicionais, como equipamentos e transporte, do próprio bolso.
O grupo “Expeditionaries” e a presença brasileira
O grupo “Expeditionaries” (Expedicionários) é uma unidade composta por mercenários estrangeiros que atuam ao lado das forças ucranianas no conflito contra a Rússia.
Entre seus integrantes, destacam-se brasileiros, incluindo ex-militares e policiais, que se uniram ao movimento em busca de uma causa comum ou por motivos financeiros.
A presença desses combatentes brasileiros tem sido documentada em diversas redes sociais, onde compartilham detalhes de suas experiências e treinamentos.
Por exemplo, um dos membros, identificado como “macaco_one”, relatou em sua conta no Instagram o uso de um fuzil de assalto Kalashnikov antes de ser substituído por uma metralhadora portátil FN Minimi Mk.2, de fabricação belga.
Outro integrante, conhecido como “meowspec”, publicou conteúdos anteriores que indicam seu serviço na Aviação do Exército Brasileiro.
Além disso, João Victor, ex-integrante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) de Minas Gerais, também faz parte do grupo.
A atuação desses brasileiros no “Expeditionaries” reflete a complexidade do envolvimento de cidadãos estrangeiros em conflitos internacionais e levanta questões sobre as motivações pessoais e os impactos dessa participação tanto para os envolvidos quanto para os países de origem.
Desafios e riscos enfrentados pelos mercenários
A vida nas linhas de frente da guerra ucraniana é repleta de desafios e perigos.
Os mercenários enfrentam condições adversas, como clima rigoroso, escassez de suprimentos e constante risco de vida.
Além disso, há relatos de que muitos são tratados como “carne para canhão”, sendo enviados para missões de alto risco sem o devido treinamento ou apoio adequado.
O impacto dos mercenários brasileiros na guerra ucraniana
A presença de mercenários brasileiros na Ucrânia tem gerado discussões sobre a influência externa no conflito.
Embora o Brasil mantenha uma postura neutra oficialmente, a participação de seus cidadãos nas hostilidades levanta questões sobre a soberania nacional e os limites da ação individual em cenários internacionais.
Além disso, a atuação desses mercenários pode afetar as relações diplomáticas entre o Brasil e outros países envolvidos no conflito, especialmente em termos de cooperação em áreas como segurança e defesa.
O envolvimento de brasileiros em conflitos estrangeiros também pode ter repercussões legais, tanto para os indivíduos quanto para o país de origem, considerando as leis internacionais e os tratados de paz aos quais o Brasil é signatário.