Um grupo formado por representantes diplomáticos de mais de vinte países, incluindo o Brasil, passou por momentos de tensão e risco real de vida ao visitar o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, durante uma missão oficial.
O que era para ser uma visita de observação humanitária se transformou em um episódio diplomático delicado quando soldados do Exército de Israel dispararam em direção à comitiva internacional.
Embora ninguém tenha sido ferido, o incidente causou uma forte reação entre os governos representados no grupo e reacendeu o debate sobre a escalada da violência israelense em áreas palestinas.
Fogo cruzado em missão diplomática em Jenin
Conforme divulgado pela Autoridade Palestina e pela agência estatal WAFA, uma delegação internacional visitou recentemente o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, com o objetivo de avaliar as condições humanitárias locais, que têm sido severamente afetadas pelas operações militares israelenses no contexto do conflito com o Hamas.
A comitiva contou com representantes diplomáticos de diversos países, incluindo Brasil, Egito, Jordânia, Marrocos, Portugal, China, Espanha, França, Reino Unido, Rússia, Japão, México, Canadá, Índia, Chile, Turquia, Romênia e integrantes da União Europeia.
Durante a visita, soldados israelenses dispararam tiros de advertência nas proximidades do grupo, provocando momentos de tensão e pânico entre os diplomatas.
O incidente aconteceu quando a delegação se aproximava de áreas consideradas sensíveis pelas forças de segurança israelenses.
Esses disparos, não feriram ninguém, mas evidenciam o ambiente tenso e volátil que envolve os campos de refugiados e áreas próximas durante o atual conflito na região.
Justificativa e tensão
Segundo informações do portal ”Veja”, as Forças de Defesa de Israel (FDI) reconheceram a presença da delegação, mas alegaram que o grupo teria se desviado da rota autorizada, entrando em uma área considerada sensível.
“Os soldados que operavam na área dispararam tiros de advertência”, informou o Exército em comunicado oficial.
Além disso, os militares israelenses alegaram que lamentam o transtorno causado, embora não tenham reconhecido qualquer conduta irregular por parte das tropas envolvidas.
A resposta israelense, no entanto, não convenceu autoridades internacionais nem o governo palestino, que classificou o episódio como uma “agressão deliberada”.
Reação internacional imediata
O Ministério das Relações Exteriores da Palestina publicou uma nota condenando o que chamou de “crime hediondo cometido pelas forças de ocupação israelenses”, acusando Israel de atacar deliberadamente uma delegação diplomática credenciada.
A repercussão internacional foi imediata.
Autoridades como o chanceler da Itália, Antonio Tajani, e a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, exigiram explicações formais de Tel Aviv.
Diante da pressão, o Exército israelense abriu um inquérito para apurar o incidente, e uma autoridade militar atuante na Cisjordânia teria se colocado à disposição para prestar esclarecimentos aos representantes dos países envolvidos.
Contexto de conflito e cerco humanitário
Esse ataque diplomático ocorre em um momento de enorme tensão geopolítica, no qual o governo israelense é cada vez mais pressionado por sua atuação militar na Faixa de Gaza.
Somente dois dias antes do incidente em Jenin, 22 países divulgaram uma declaração conjunta exigindo que Israel permita o envio imediato de ajuda humanitária a Gaza.
A declaração veio após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciar a liberação mínima de suprimentos para o enclave palestino.
Mesmo com o anúncio, a ONU afirmou que, até o dia seguinte, nenhum tipo de ajuda havia sido entregue na região.
Esse contexto amplia a gravidade do ocorrido com os diplomatas em Jenin, pois reforça a percepção de que Israel estaria dificultando o acesso internacional a áreas críticas tanto para ações humanitárias quanto para observações diplomáticas.
O papel do Brasil no episódio
O Itamaraty confirmou a presença de um diplomata brasileiro na missão, mas até o momento desta publicação não se pronunciou publicamente sobre o ocorrido.
A ausência de uma nota oficial brasileira contrasta com a atitude de outros países que já solicitaram investigações e ações por parte de Israel.
A postura brasileira em eventos como este pode ter impacto direto nas discussões futuras sobre ajuda humanitária, segurança internacional e respeito ao direito diplomático.
Escalada perigosa
Esse não é um caso isolado. Desde o início da nova fase do conflito entre Israel e Hamas, diversos ataques aéreos, incursões terrestres e confrontos em áreas civis têm sido registrados, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia.
Organizações internacionais alertam que o atual cenário representa uma grave violação dos direitos humanos, além de um desafio sem precedentes para a diplomacia mundial.
A presença de diplomatas estrangeiros em campo — um gesto simbólico e político — evidencia o quanto o mundo está atento aos desdobramentos da crise.
E o disparo contra essa comitiva não será facilmente esquecido.