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Choque no Exército Brasileiro: metralhadoras desaparecem do arsenal e justiça condena militares e civis envolvidos em esquema de venda ilegal

O episódio revela uma cadeia de erros e negligências que permitiram o desaparecimento de armamento pesado do Exército, apontando para lacunas graves na segurança interna e o risco que isso representa para o controle do comércio ilegal de armas no país.

por Alisson Ficher Publicado em 12/06/2025
Choque no Exército Brasileiro: metralhadoras desaparecem do arsenal e justiça condena militares e civis envolvidos em esquema de venda ilegal

Em meio a celebrações do Dia da Independência, um roubo cinematográfico foi executado dentro de uma das unidades mais estratégicas do Exército Brasileiro, escancarando um cenário de fragilidade que pouco se espera de uma força armada nacional.

O caso do sumiço de 21 metralhadoras e um fuzil do Arsenal de Guerra de São Paulo em setembro de 2023 revelou não apenas o envolvimento direto de militares e civis em um esquema criminoso, mas também deficiências estruturais na segurança interna das Forças Armadas.

Agora, com a condenação de nove envolvidos, incluindo oficiais do Exército e integrantes de facções criminosas, o episódio reacende o debate sobre a vulnerabilidade dos depósitos de armas controlados pelo Estado brasileiro.

Condenações e penas revelam extensão da negligência

Segundo informações da CNN Brasil, a Justiça Militar condenou quatro militares e cinco civis por participação direta no furto e na venda das armas.

Dois ex-cabos do Exército, apontados como os executores da ação, foram condenados a 17 anos e 4 meses de prisão em regime fechado.

Ambos atuavam dentro da unidade militar, com acesso facilitado às dependências do arsenal.

Um deles era motorista do então diretor da organização militar, o que lhe conferia liberdade de circulação e confiança.

Um tenente, que comandava a Seção de Inteligência, foi sentenciado a nove meses de detenção — três meses por descumprimento de normas militares e seis meses por peculato culposo, já que contribuiu, ainda que sem dolo, para que o crime fosse cometido.

Já o então diretor do Arsenal de Guerra, um tenente-coronel, recebeu uma punição de seis meses de suspensão do posto.

A Justiça entendeu que houve negligência direta à norma que impõe ao comandante da unidade o dever de exercer comando com responsabilidade e iniciativa em todos os setores.

Entre os civis, as penas foram ainda mais severas: um deles foi condenado a 14 anos, 4 meses e 24 dias de prisão, e os demais, a 18 anos.

Todos foram condenados por comércio ilegal de armas de fogo — um crime que, segundo o Ministério Público Militar, teve como objetivo principal abastecer organizações criminosas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A operação que escancarou a falha

Segundo a denúncia, o roubo ocorreu em 7 de setembro de 2023, quando o Arsenal de Guerra de São Paulo não estava em funcionamento devido ao feriado nacional.

Os dois cabos aproveitaram a ausência de expediente e romperam os lacres, cadeados e até o alarme da Seção de Recebimento e Expedição de Material da unidade militar.

Após arrombarem o depósito, os criminosos colocaram o armamento furtado na caçamba de uma caminhonete e cobriram o material com uma lona.

Inacreditavelmente, o veículo saiu do local sem ser revistado.

As armas foram então entregues aos civis, que deram prosseguimento à negociação com facções criminosas.

Das 22 armas furtadas, 20 foram recuperadas dias depois em operações da Polícia Militar no interior de São Paulo e na periferia do Rio de Janeiro.

O destino das duas armas restantes ainda é desconhecido, levantando preocupações sobre o possível uso desses equipamentos em confrontos urbanos, assaltos a bancos ou até em atentados.

Um caso que não é isolado

O episódio do Arsenal de Guerra de São Paulo não é um ponto fora da curva.

Em 2019, 60 fuzis foram roubados de um quartel da Polícia Militar no Rio de Janeiro e, em 2017, armas do Exército sumiram de um depósito no Paraná.

Esses casos revelam que o Brasil enfrenta um problema recorrente com a segurança e o controle de armamentos em órgãos militares e policiais.

A proximidade de militares com organizações criminosas também vem se tornando um tema sensível.

A atuação de integrantes das Forças Armadas em crimes como tráfico de armas, contrabando e roubo qualificado tem crescido e gerado críticas à forma como o Exército e a Marinha monitoram o comportamento de seus integrantes.

Fragilidade institucional preocupa especialistas

Especialistas em segurança pública apontam que o caso evidencia falhas graves no sistema de controle interno do Exército.

Para eles, a ausência de vigilância eletrônica funcional, permissividade no acesso às áreas sensíveis e uma cultura de confiança desmedida em cargos internos contribuem para a ocorrência de crimes dessa magnitude.

Em unidades militares, a crença de que “o militar é confiável por princípio” pode gerar uma perigosa zona de conforto.

Além disso, falhas tecnológicas, como alarmes desativados e ausência de monitoramento em tempo real, contribuem para a vulnerabilidade do sistema.

Alisson Ficher

Alisson Ficher