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Marinha do Brasil revoluciona a indústria naval: batimento de quilha da terceira fragata da Classe Tamandaré, com tecnologia alemã e DNA brasileiro, reforça a missão de proteger o que é nosso

A Fragata Cunha Moreira marca uma nova era na Marinha do Brasil, com tecnologia alemã, construção 100% digital e foco total na proteção do pré-sal e da Amazônia Azul

por Bassani Publicado em 11/06/2025
Marinha do Brasil revoluciona a indústria naval: batimento de quilha da terceira fragata da Classe Tamandaré, com tecnologia alemã e DNA brasileiro, reforça a missão de proteger o que é nosso

O Estaleiro Brasil Sul, da empresa alemã TKMS, em Itajaí (SC), foi palco de um evento que simboliza um novo capítulo na história da indústria naval brasileira: o batimento de quilha da Fragata Cunha Moreira (F202). Trata-se da terceira embarcação do Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT), um dos principais projetos estratégicos da Marinha do Brasil, integrado ao Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Uma cerimônia, repleta de simbolismo e tradição naval, contou com a presença de autoridades civis, militares, representantes da indústria de defesa e trabalhadores envolvidos no projeto. Durante o ritual, uma moeda comemorativa foi posicionada sob uma estrutura metálica de 52 toneladas, que corresponde ao futuro compartimento da praça de máquinas. Nesse local, serão instalados dois motores, uma caixa redutora e diversos equipamentos auxiliares. O gesto representa sorte e proteção ao navio e à sua tripulação, conforme a tradição da Marinha do Brasil e da indústria naval.

Como divulgado anteriormente no Site Agência Marinha de Notícias, Monalisa da Silva Fernandes, colaboradora da TKMS responsável por colocar a moeda na estrutura, descreveu o momento como inesquecível. “Estou bem nervosa pela proporção do Programa, mas muito feliz por poder participar. Fico bastante orgulhosa de fazer parte de um projeto dessa magnitude”, afirmou. Esse sentimento de orgulho e pertencimento é compartilhado por todos os profissionais envolvidos, diante da relevância nacional e internacional que o PFCT vem conquistando.

Brasil constrói simultaneamente três fragatas e fortalece a soberania naval

O Programa Fragatas Classe Tamandaré é, atualmente, o maior projeto de construção naval de superfície em andamento no Brasil. Pela primeira vez, três fragatas estão sendo construídas simultaneamente em território nacional, um feito que demonstra a capacidade técnica da Base Industrial de Defesa (BID) e o amadurecimento da engenharia naval brasileira.

Além da Cunha Moreira, que teve seu batimento de quilha oficializado agora, outras duas fragatas estão em estágios avançados de construção no mesmo estaleiro: a Fragata Tamandaré (F200), já lançada ao mar em 2024, e a Fragata Jerônimo de Albuquerque (F201), com lançamento previsto para o segundo semestre de 2025. Juntas, essas embarcações formarão o núcleo de uma nova geração de navios da Marinha do Brasil.

As fragatas utilizam a consagrada tecnologia MEKO, da alemã TKMS, adaptada às especificações da Marinha brasileira. Com 107 metros de comprimento, 3.500 toneladas de deslocamento e capacidade para cerca de 130 tripulantes, os navios possuem convoo e hangar para aeronaves, além de sistemas modernos de mísseis, sensores multifuncionais e radares de última geração. Esses recursos garantirão à Marinha uma presença mais assertiva e tecnológica nas águas jurisdicionais brasileiras e em missões internacionais.

Inovação tecnológica e sustentabilidade no primeiro estaleiro digital da América do Sul

Outro diferencial que destaca o Programa Classe Tamandaré no cenário internacional é a adoção de tecnologias de ponta e práticas sustentáveis. As fragatas estão sendo construídas no primeiro estaleiro digital da América do Sul, o que representa um avanço notável na forma como o Brasil executa seus projetos navais. Utilizando gêmeos digitais, realidade aumentada e processos eletrônicos integrados, o estaleiro consegue reduzir significativamente os erros de montagem, acelerar correções e minimizar o impacto ambiental de suas operações.

De acordo com Fernando Queiroz, CEO da Águas Azuis, consórcio responsável pelo desenvolvimento e construção das fragatas, a digitalização completa trouxe ganhos concretos em produtividade, confiabilidade e rastreabilidade. “Ao eliminar o uso de papel, digitalizamos todos os processos. Estamos produzindo navios de alta tecnologia, tanto no produto quanto no processo. Todo o desenvolvimento é feito com softwares específicos para estrutura, testes, equipamentos e sistemas. Isso tudo gera o chamado ‘irmão digital’, que depois será usado pela Marinha para operar os navios com a maior eficiência possível”, explicou.

Além da inovação tecnológica, o projeto tem um forte impacto positivo na economia brasileira. Estima-se a geração de cerca de 23 mil empregos até 2029, entre diretos, indiretos e induzidos. Mais de mil fornecedores nacionais participam da cadeia produtiva, promovendo transferência de tecnologia e o fortalecimento da indústria local. Entre os sistemas embarcados desenvolvidos no Brasil, destacam-se o Sistema Integrado de Gerenciamento da Plataforma (IPMS) e o Sistema de Gerenciamento de Combate (CMS). Este último tem seu código-fonte entregue à Marinha, o que garante autonomia estratégica e maior segurança cibernética.

Fragata “Cunha Moreira” terá as mesmas características da “Tamandaré” (F200) após sua conclusão – Imagem: Marinha do Brasil

Defesa da Amazônia Azul: fragatas garantem soberania e proteção do litoral brasileiro

As fragatas da Classe Tamandaré não são apenas marcos tecnológicos e industriais. Elas desempenham um papel fundamental na proteção da Amazônia Azul, uma vasta área marítima de 5,7 milhões de quilômetros quadrados que guarda parte significativa das riquezas naturais brasileiras. Mais de 90% do comércio exterior nacional passa por essas águas, o que reforça a necessidade de vigilância e defesa permanente.

Com sua estrutura moderna e capacidade operacional elevada, as novas fragatas permitirão à Marinha do Brasil realizar o controle efetivo de áreas marítimas estratégicas, proteger ilhas oceânicas e garantir apoio logístico e diplomático às ações da Política Externa brasileira. Em tempos de desafios geopolíticos crescentes, esses navios representam a materialização de um Brasil mais preparado para proteger seus interesses no mar.

Assim, o batimento de quilha da Fragata Cunha Moreira marca não apenas um rito de construção naval, mas também o fortalecimento da soberania marítima, tecnológica e econômica do Brasil. Trata-se de um projeto que une tradição, inovação e estratégia, consolidando o país como protagonista regional em defesa naval e promotor de desenvolvimento sustentável.

Bassani

Bassani

Redatora especializada em temas como setor militar, empregos, cursos e atualidades. Comprometida em criar conteúdos de qualidade que informam e mantêm os leitores exigentes sempre atualizados