Um número considerável de brasileiros acredita piamente que o fato de Jair Bolsonaro ter nomeado muitos militares para fazer parte de seu governo seria uma espécie de garantia contra eventuais processos de impeachment.
Duas queixas crime foram apresentadas a PGR
Um das queixas, elaborada pelo Ministro Marco Aurélio, menciona episódios em que o presidente teria feito pouco da pandemia da Covid-19 e diz que ele “incentivou ostensivamente o descumprimento das medidas de isolamento recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e pelo próprio poder executivo”.
Caso aceita a notícia-crime, a Câmara dos Deputados, assim como ocorreu na época de Dilma Rousseff, será consultada para autorizar ou não o seguimento da Ação Penal e, a depender da resposta, Bolsonaro pode ser afastado por 180 dias.
Ao final do processo o presidente Bolsonaro pode perder o mandato.
Ontem (segunda-feira – 30), partidos de oposição protocolaram um queixa-crime contra Bolsonaro por causa do TOUR que fez pelos arredores do Distrito Federal.
Senadores aprovaram uma moção de repúdio contra o presidente.
Os militares das Forças Armadas
Os militares das Forças Armadas repetem sempre que podem que têm a noção exata de qual é o seu papel no contexto atual. Passa por esse papel cumprir exatamente o que prevê a Constituição Federal de 1988 e outros dispositivos legais.
No momento em que vivemos, o início de um processo de impeachment poderia ser interpretado como irresponsabilidade do presidente da Câmara dos Deputados. É hora de estarmos focados na interrupção do crescimento da PANDEMIA de COVID-19, um processo desse tipo provavelmente suscitará manifestações públicas em apoio ao presidente da república, que – dado o momento crítico – pela própria possibilidade de contaminação, certamente seriam reprimidas pelas forças de segurança e, quem sabe, a depender do número de pessoas, até pelas forças armadas.
Militares como os generais Santos Cruz e Santa Rosa já deixaram bem claro que são opositores de muitos comportamentos de Bolsonaro e seu staff, mas que também não apoiariam nada que infringisse a Constituição de 1988. Na semana passada Paulo Chagas, outro general, disse que isso é “síndrome do olavismo”
De fato, ainda nesse final de semana um perfil atribuído a Olavo de Carvalho (com mais de 300 mil seguidores e seguido por vários militares de alta patente e outras personalidades conhecidas) tentou mais uma vez convencer os militares, com os quais Olavo já não tem boas relações, de que devem intervir. “É a última chance: ou as Forças Armadas restauram “manu militari” a unidade nacional, ou o Brasil já está dividido em repúblicas estaduais separadas, governadas pela China.”.
O perfil reflete exatamente o que pensa grande parte da sociedade que nas redes sociais compartilha milhares de mensagens pedindo uma “ação dos militares”.
Em nota publicada nessa terça-feira o ministro da defesa, General Fernando Azevedo, disse: “… A Marinha, o Exército e a Aeronáutica, como instituições nacionais permanentes e regulares, continuam a cumprir sua missão constitucional e estão submetidas ao regramento democrático com o propósito de manter a paz e a estabilidade.”
Um militar consultado pela Revista Sociedade Militar diz que “… fator determinante para o retorno do ânimo daqueles que querem derrubar o Jair foram justamente as declarações recentemente feitas pelo Mourão, que – com seu famoso morde e assopra – acabou se tornando mais aceito pela oposição e grande mídia. Acho que ele é fiel ao governo, mas não é mais visto como um obstáculo pela oposição e na verdade as coisa se inverteram, por se mostrar um democrata sua presença dá até um certo… (como poderia dizer)… PLUS na fé de que os comandantes não vão se manifestar contra qualquer ação feita dentro dos conformes. E isso é verdade, os militares da ativa se manterão calados. Quem tem cargo de confiança, ministros, DAS isso e aquilo, podem até se manifestar, mas não falam mais pelas Forças Armadas. O pessoal da ativa não vai entrar numa empreitada maluca, sabem que se isso ocorrer daqui a alguns anos todo mundo pode e vai ser responsabilizado… “
Outro militar, na reserva, respondendo o perfil Olavo de Carvalho Opressor, disse: “Gen Mourão é fiel. Se não fosse, o Presidente não estaria tão confiante. Somos irmãos de armas, forjados no mesmo berço da AMAN. É difícil explicar, naquela Escola aprendemos que podemos não concordar em tudo, mas cumprimos com a ordem do Comandante. Sempre!”
Os intervencionistas
Ao longo dos últimos anos acompanhamos o inicio, crescimento, ocaso e ressurgimento do movimento intervencionista. Acompanhamos de perto a primeira manifestação expressiva em são Paulo, ainda em 2014, a manifestação no Rio de Janeiro na mesma época e vários atos pontuais ao longo dos anos. Cobrimos também a colocação da grande bandeira na encosta do Corcovado, no Rio de Janeiro.
Sabemos que entre os intervencionistas há um grande número de pessoas sensatas e honestas, que apenas acreditam que o Brasil estaria melhor de fosse conduzido por militares das Forças Armadas. Estes atuam sempre dentro do seu direito ao lutar pela concretização de seu sonho.
Por outro lado sabemos que em meio ao grupo há várias pessoas que não hesitam em usar de artifícios escusos para fazer crescer o movimento, dizem-se amigos de militares das forças armadas, inventam datas e mais datas supostamente marcadas para o inicio da intervenção e alimentam fábulas ridículas, como o ataque de caças venezuelanos à Brasília, a base russa escondida na Amazônia e o batalhão do General de Fronteira Von Brenner, que ia invadir Brasília. Alguns criaram sites e até rádios online para divulgar sua visão de mundo e hoje vivem exclusivamente da renda obtida com esses canais.
Há outros que ultrapassam o limite da sensatez, como o senhor Célio Evangelista e seus seguidores. Célio é auto-proclamado presidente do Brasil e já carregou muita gente nessa maratona tresloucada, inclusive militares, como o coronel Carlos Alves, aquele que acabou ganhando uma tornozeleira eletrônica.
Veja: O Curioso caso de Célio Evangelista, o novo presidente do BRASIL
Com a eleição de JAIR BOLSONARO vários intervencionistas se deram por satisfeitos. Contudo, diante dos conflitos recentes percebe-se que alguns grupos estão se recompondo, a chama permanece acesa e em várias manifestações registrou-se faixas pedindo intervenção militar. Segundo os próprios militares – não há mínima possibilidade de que esse desejo seja satisfeito.
O general Paulo Chagas chama de burros os intervencionistas. Logo depois da manifestação pró-Bolsonaro ele disse: “Vai fazer de Bolsonaro um ditador? Então deixamos de ser uma democracia? É uma ilusão, as Forças Armadas jamais vão endossar uma coisa dessas“.