Em um momento em que o presidente Lula busca estreitar os laços com as Forças Armadas, duas frentes de conflito surgem e ameaçam comprometer a relação. O Partido dos Trabalhadores (PT), legenda da qual o presidente é membro e fundador, se encontra em atrito com o Exército e a Marinha por motivos distintos, gerando um clima de tensão e instabilidade.
Contrato bilionário com empresa israelense gera descontentamento
O primeiro ponto de discórdia reside em um contrato bilionário firmado entre o Exército Brasileiro e uma empresa israelense. A escolha da empresa, originária de um país com quem o presidente Lula já teve embates públicos e que se encontra em meio a um conflito com a Palestina, gerou descontentamento entre os membros do partido.
O vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, defende a suspensão imediata da importação de material bélico de empresas israelenses, argumentando que o Brasil não deve fortalecer um país em guerra com um povo oprimido. Sua posição é apoiada por parlamentares do PSOL, PDT e PCdoB, que propõem a substituição das empresas israelenses por outras sediadas em países aliados, como França, Itália, China e Estados Unidos.
Em contrapartida, o ministro da Defesa, José Múcio, defende a manutenção dos contratos, alegando que os mesmos seguiram os trâmites legais de concorrência pública. A alegação, no entanto, não acalma os ânimos do PT, que segue pressionando por uma revisão da decisão.
Homenagem a João Cândido e a Revolta da Chibata
O segundo ponto de conflito gira em torno da figura de João Cândido, líder da Revolta da Chibata em 1910. Parlamentares do PT propuseram a inclusão de seu nome no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, iniciativa que encontrou forte resistência por parte do comandante da Marinha, Almirante Marcos Olsen.
Em carta enviada à Câmara dos Deputados, Olsen classificou a Revolta da Chibata como um “fato opróbio” protagonizado por “abjetos marinheiros” que desrespeitaram a hierarquia e a disciplina militar, utilizando-se de equipamentos bélicos para “chantagear a nação”. Para o Almirante, homenagear João Cândido seria chancelar o uso da força e a indisciplina, além de desmerecer os esforços da Marinha em prol da ordem e do Estado Democrático de Direito.
Divergências entre PT e Marinha
A posição do Almirante Olsen gerou críticas contundentes por parte do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), autor do projeto de lei que visa homenagear João Cândido. O parlamentar defende que a revolta foi um movimento legítimo contra a prática cruel e desumana do açoitamento, utilizado como punição aos marinheiros. Na mesma linha, mas nos bastidores, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também se manifestou em apoio à homenagem, reconhecendo a importância da Revolta da Chibata na luta por melhores condições de vida para os marinheiros brasileiros.
Fonte: Metrópoles, com informações de Carta Capital e G1.