Poucos brasileiros têm conhecimento da totalidade das missões desempenhadas pelos militares da Marinha, para muitos é um mistério que tantos equipamentos de sinalização náutica permaneçam funcionando ao longo da enorme costa do nosso país. A atividade de sinalização náutica é essencial para a movimentação segura de mercadorias e, por conseguinte, para a economia nacional.
No norte do país a atividade de manutenção dos sinais náuticos é particularmente desafiadora. Grandes rios como o Oiapoque, Calçoene e, principalmente, o Amazonas, apresentam variações abruptas de profundidade e correntes intensas que dificultam a navegação. A complexidade do trabalho dos militares é elevada, pois precisam garantir que essas águas permaneçam seguras para grandes navios de carga e passageiros que transitam pela região.
Desafios e perigos enfrentados pelos militares
Navegar no estuário do Amazonas é uma experiência tensa, além da existência de criminosos que trafegam em embarcações rápidas e de pequeno porte, capazes de escapar pelos igarapés com baixíssima profundidade, existem as próprias dificuldades para a navegação e realização de atividades em locais onde a velocidade da corrente pode ser muito grande e qualquer erro pode resultar em graves acidentes.
As águas turbulentas, resultantes do encontro do Rio Amazonas com o Oceano Atlântico, criam um ambiente perigoso tanto para grandes navios quanto para embarcações menores. É comum que a Marinha do Brasil encontre náufragos durante suas patrulhas, pessoas que se agarram desesperadamente a destroços de embarcações naufragadas, amarradas a garrafas pets ou troncos de árvores.
Em uma dessas operações, por exemplo, cinco militares desembarcaram em um bote de alumínio para reparar o farol Taiá, enfrentando ondas fortes e lama pegajosa que dificultavam a caminhada. Ao chegar ao local, encontraram um gigantesco ninho de marimbondos-caçadores, conhecidos por suas picadas extremamente dolorosas. Esse é um tipo de problema que embora possa parecer pequenino, pode causar o atraso da missão e consequente perda de oportunidades de realização já que tudo tem que ser feito de forma cronometrada. A depender da altura da maré, a distância de caminhada do navio ou lancha até um farol pode variar de algumas dezenas de metros a mais de 1 quilômetro, carregando – na lama pegajosa – equipamentos que podem pesar mais de 30 quilos para cada militar.

A dedicada manutenção dos faróis e os riscos que ninguem percebe
Além dos riscos físicos, a manutenção dos faróis é uma tarefa que exige conhecimento técnico e habilidade. Os militares precisam garantir que os faróis, essenciais para a navegação, estejam sempre operacionais. Em locais como o farol Yacumama, farol instalado em um navio peruano naufragado no Rio Pará, em 1974, quando estava a caminho de Iquitos no Perú, a equipe de militares precisa realizar manutenções rápidas e precisas durante a vazante do rio, um momento crítico que permite o acesso à estrutura corroída pelo tempo, quando é possível caminhar sobre o que resta da estrutura original e entrar por baixo da velha e carcomida chaminé.
A caminhada por sobre os conveses enferrujados e frágeis da embarcação naufragada oferece um risco imenso para os operadores de sinalização náutica, se uma das chapas de soltar os militares despencarão para o meio das ferragens no interior dos destroços e por isso todos tentam de equilibrar por sobre as vigas mais grossas, menos destruidas pela oxidação.
O sacrifício vale o risco. O sinal náutico com cerca de 10 metros de altura é muito importante, tanto para sinalizar o perigo isolado causado pela embarcação semi-submersa, que tem mais de 30 metros de comprimento, quanto para auxiliar na rota de navegação dos cargueiros que passam pelo canal mais distante. A área é conhecida pela enorme quantidade de piratas e por isso algumas precauções e ações táticas e técnicas são necessárias.
Faróis: Patrimônio histórico e segurança
Os faróis, além de sua importância funcional, são monumentos históricos e culturais. O Farol da Barra, em Salvador, é um exemplo de sinal náutico que se tornou um ponto turístico, abrigando o Museu Náutico da Bahia. Esse farol foi eleito Farol do Ano em 2020, destacando-se pelo seu valor histórico e arquitetônico.
A manutenção dos faróis e demais equipamentos de sinalização náutica é crucial para evitar acidentes marítimos de grande porte, como um possível encalhe de um cargueiro repleto de combustível na foz do Rio Amazonas, que poderia causar uma catástrofe ambiental de proporções terríveis. Graças à dedicação dos militares da Marinha, que trabalham silenciosamente, a eficácia da sinalização náutica no Brasil é mantida dentro dos padrões internacionais, garantindo a segurança da navegação e contribuindo para a economia do país.