A Rússia pode suspender as restrições quantitativas ao seu arsenal nuclear caso os Estados Unidos continuem a desenvolver seu sistema global de defesa antimísseis, segundo alertou Grigory Mashkov, embaixador especial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em um artigo publicado no International Affairs Journal. A informação foi repercutida pela agência de notícias russa TASS na quarta-feira (29).
Alerta de Moscou
Mashkov foi taxativo ao afirmar que a estabilidade estratégica não pode mais ser analisada dentro de um contexto bilateral clássico. “Surgiram muitos atores na arena internacional que influenciam a linha global de forças de mísseis”, escreveu. E, diante do que chama de “política ocidental de infligir danos estratégicos à Rússia”, o país pode ser forçado a abandonar limites em seu arsenal nuclear.
“Não está descartado que, nas atuais condições de confronto com o Ocidente, possamos enfrentar a necessidade de nos afastarmos das restrições sobre arsenais nucleares e de mísseis em favor de seu aumento quantitativo e qualitativo”, alertou o diplomata.

Em outras palavras, a Rússia vê a iniciativa americana como uma ameaça direta ao equilíbrio nuclear global e pode responder com o aumento quantitativo e qualitativo de seu próprio arsenal.
O impacto da defesa antimísseis dos EUA
O desenvolvimento da defesa antimísseis dos EUA, segundo Mashkov, representa um ponto sem retorno. Ele argumenta que esse avanço “põe fim às perspectivas de redução de armas ofensivas estratégicas e preservação da estabilidade estratégica nos termos anteriores”.
Segundo ele, uma corrida armamentista já está em curso, com a modernização de arsenais nucleares e veículos de entrega de armas de destruição em massa. Além disso, Mashkov mencionou a militarização do espaço e o uso de novas tecnologias, como inteligência artificial e computação quântica, como fatores que podem ampliar ainda mais as capacidades estratégicas dos adversários.
“Assim como a modernização em larga escala de arsenais nucleares e veículos de entrega de armas de destruição em massa”, escreveu ele. O diplomata também destaca que a militarização do espaço está acelerando e que “novas tecnologias, como inteligência artificial e computadores quânticos, podem multiplicar o potencial do inimigo em áreas estratégicas”.
Mudança na postura nuclear russa
Mashkov sugere que a Rússia reavalie sua posição em relação ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). “Seria possível analisar e revisar nossas abordagens às realidades existentes”, disse. Ele defende que Moscou faça uma nova leitura de compromissos anteriores, especialmente em relação à decisão de 2000 de fortalecer o Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), abandonado pelos EUA em 2002.
“Teremos que dar uma nova olhada em todos os nossos compromissos na área de fortalecimento da transparência e medidas de construção de confiança”, disse Mashkov. “Suspender discussões sobre riscos e ameaças nucleares, que estão se tornando conversa fiada no contexto de esforços crescentes do Ocidente para minar forças de dissuasão nuclear estratégicas e não estratégicas.”
A nova postura russa também pode significar uma retração em acordos de transparência e construção de confiança no setor nuclear. Para Mashkov, essas discussões se tornaram “conversa fiada” diante dos esforços ocidentais para “minar as forças de dissuação nuclear estratégicas e não estratégicas” da Rússia.
O embaixador ainda questionou a política de cooperação com os EUA, sugerindo que a Rússia pode precisar reavaliar sua abordagem. “É difícil julgar se nossa política de cooperação com os americanos apenas em áreas nas quais eles estão interessados é razoável, se é que é”, concluiu.