O Exército Brasileiro está prestes a tomar uma decisão estratégica que pode modernizar de forma profunda sua capacidade blindada. Trata-se da proposta da BAE Systems para a produção local da viatura blindada CV90 — considerada por especialistas como “a melhor opção para proteger a Infantaria”. Mais que um simples fornecimento, a proposta prevê fabricação e integração 100% brasileiras, em um projeto “chefiado pela indústria brasileira”, com possibilidade de financiamento externo via o mesmo pacote sueco que viabilizou os caças Gripen.
“Estamos oferecendo dois ou três elementos importantes adicionais na proposta da gente pro Brasil”, afirmou Marc Collins, diretor de novos negócios da BAE Systems, em entrevista ao canal Caiafa Master durante a LAAD 2025. Segundo ele, o plano da empresa é claro: “a família seja realmente de viaturas brasileiras, fabricadas no Brasil, integradas no Brasil”.
Do Gripen ao CV90: financiamento sueco é trunfo
A proposta da BAE Systems é fortalecida por um diferencial decisivo: a possibilidade de crédito externo do governo sueco. “O mesmo pacote de crédito externo que apoiou a oferta dos aviões Gripen no Brasil faz uns 12 anos existe para um projeto de família de viaturas CV90”, afirmou Collins.

O executivo ressaltou que a empresa não fala em nome de governos, mas garantiu que o mecanismo de financiamento está disponível. “A viatura CV90 vem da nossa unidade de negócios BAE Systems Hägglunds na Suécia, que tem décadas de experiência de exportar a viatura CV90”, disse.
Tanque médio, potência máxima
O CV90 oferecido ao Brasil é um tanque médio com canhão de 120 mm, capaz de rivalizar com qualquer carro de combate pesado. Segundo Collins, “oferece a letalidade equivalente de qualquer tanque no mundo”, mas com uma vantagem de peso — literalmente. A versão exposta na LAAD pesa apenas 26 toneladas, podendo chegar a 37,8 toneladas com proteção balística extra.
Luiz Padilha, colunista do site Defesa Aérea e Naval, reforça essa vantagem comparativa. “As forças armadas podem vir a optar por tanques médios, que custam menos, são mais velozes e, dependendo da blindagem e calibre do canhão, podem ser mais eficientes do que os pesados Main Battle Tank hoje no mercado”, escreveu.
Um veículo, muitas variantes
O CV90 não é um veículo único, mas uma plataforma modular e escalável. “Desenvolvemos até o momento 17 diferentes variantes da viatura”, revelou Collins. Entre elas estão versões de combate de infantaria (IFV), viaturas de engenharia, morteiro, transporte e, agora, o tanque médio com canhão de 120 mm. Abaixo algumas das modalidades do blindado sueco.
- CV90 Mjölner: lançador de morteiros 120mm com alcance de 12 km.
- CV90 STING: versão de engenharia com braço robótico para desarmar explosivos.
- CV90 com Iron Fist: sistema de proteção ativa da Elbit para interceptar mísseis.
“O Exército Brasileiro pode modernizar sua Cavalaria com um veículo mais ágil que os MBTs pesados”, sugere Padilha.
Padilha lembra também que já são mais de 1.280 unidades vendidas para sete países europeus, quatro deles membros da OTAN. A nova geração, CV90 MkIV, é equipada com torre digital, sistemas C4I e possibilidade de integração com mísseis antitanque, como o Spike LR ou o Akeron MP.
Conforto, discrição e inovação
O CV90 também impressiona pelos detalhes que fazem diferença no campo de batalha. As esteiras de borracha, desenvolvidas com a Soucy International, reduzem o peso em até uma tonelada, aumentam o conforto interno e diminuem o ruído em 10 dB. “Com a redução das vibrações, os equipamentos eletrônicos passam a ter uma expectativa de vida útil maior”, destacou Padilha.
Outro destaque é a proteção CBRN (química, biológica, radiológica e nuclear), com sistema de filtragem que cria sobrepressão interna, além de espaço para comida, água e até uma chaleira. A versão Mjölner, com morteiros de 120mm, permite operação completamente interna com precisão guiada por GPS.
Produção local e vantagens estratégicas
Durante visita à fábrica da BAE Systems Hägglunds na Suécia, Padilha pôde acompanhar de perto a produção do CV90. “As chapas de aço são cortadas a laser, e as soldas de altíssima qualidade são feitas por robôs”, descreveu. Ele ressalta que a motorização Scania — presente no Brasil desde 1957 — e a manutenção facilitada são grandes vantagens para as Forças Armadas.
Caso a proposta seja aceita, o Brasil entraria no clube seleto de operadores do CV90 e ainda passaria a exportar componentes do veículo. “Com a seleção de empresas brasileiras para a cadeia de suprimentos, o Brasil passaria a ser mais um dos fornecedores de partes do veículo, trazendo divisas ao país”, conclui Padilha.