O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), em parceria com o Consulado Geral dos Estados Unidos, produziu um relatório intitulado “Brasil, Estados Unidos e China” que visa “promover diálogos sobre o estado atual das relações Brasil-EUA-China e refletir sobre as perspectivas para o futuro considerando o novo contexto que inclui o novo governo no Brasil, a presença crescente da China na América do Sul e os desafios atuais na relação bilateral EUA-China”.
Contexto: Para discutir os temas acima, foram reunidos especialistas brasileiros e norte-americanos, que no contexto das relações entre Brasil, Estados Unidos e China, enfatizaram as diferentes naturezas das relações bilaterais e as mudanças recentes no cenário global.
Destacam-se duas principais tendências nos assuntos globais: a fragmentação econômica global e a polarização da segurança global, resultados de eventos como a guerra na Ucrânia, a competição estratégica entre EUA e China e a pandemia de COVID-19.
Surgem, daí, agrupamentos distintos de Estados, com convergências de valores ao longo de diferentes eixos. A relação EUA-China é marcada pela atrofia dos canais de comunicação, politização crescente e intensificação da competição estratégica, enfrentando desafios como a questão de Taiwan, disputas territoriais, diferenças tecnológicas e o crescimento do arsenal nuclear chinês.
Estamos buscando a marca de 10 mil seguidores no INSTAGRAM da Revista Sociedade Militar, clique abaixo para seguir
Clique aqui para seguirA Posição do Brasil na Relação Triangular
Quanto ao posicionamento do Brasil na competição entre Estados Unidos e China, os especialistas discutiram a importância do Brasil posicionar-se de maneira ponderada, destacando o papel de alianças e acordos estratégicos que não comprometam o país com um ou outro lado.
Eles também ressaltaram a importância de o Brasil diversificar suas relações para ter relações equilibradas e saudáveis com os Estados Unidos e a China, o que é fundamental para garantir a soberania nacional e o crescimento econômico sustentável. Os especialistas também apontaram os riscos, oportunidades e dilemas que a competição entre EUA e China traz para o Brasil e outras potências médias, incluindo a questão do equilíbrio entre interesses e valores e a transição de uma relação comercial de interdependência para uma de dependência assimétrica.
Outra pauta importante é a relação comercial entre o Brasil e a China, considerando que, embora o mercado chinês seja relevante para o Brasil, o país é o quinto maior exportador para a China e também possui uma pauta de exportações e comércio diversificada com outros países, o que faz com que a China tenha um poder limitado sobre o Brasil.
Eles também destacaram que a relação Brasil-EUA é estruturada de forma diferente da relação Brasil-China, e que os parâmetros dos relacionamentos com cada potência são diferentes. Por isso, o diálogo com cada potência pode e deve acontecer na mesma intensidade, mas os conteúdos de cada diálogo serão diferentes.
Áreas Potenciais para a Cooperação
Para fortalecer sua capacidade de inovação e desenvolvimento tecnológico, Danielly Ramos, professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, destaca que o Brasil deve aproveitar a competição entre a China e os EUA no domínio tecnológico e estabelecer parcerias com empresas e instituições de pesquisa de ambos os países.
Essas parcerias podem manter o progresso tecnológico do Brasil e aumentar sua competitividade global. No entanto, Robert Ross, professor da Boston College e Associado do Centro de Estudos Chinese John King Fairbank da Universidade de Harvard, aponta que a legislação dos EUA, como o “Chips Act”, limita a capacidade de cooperação dos Estados Unidos na indústria de tecnologia, mesmo com parceiros e aliados em outras áreas.
Apesar disso, os especialistas concordam que o diálogo e o relacionamento entre Brasil e Estados Unidos são mais amplos, e uma área com potencial de cooperação é a dos desafios globais relacionados às mudanças climáticas e preservação do meio ambiente.
Conclusão
No atual contexto de transformações no sistema internacional, com maior fragmentação e polarização, os especialistas destacam que as relações entre Estados Unidos e China estão cada vez mais competitivas e hostis. Enquanto os Estados Unidos têm uma relação mais próxima com o Brasil em termos de história, política e valores, a relação econômica entre China e Brasil continua sendo crucial para ambos os países.
Diante disso, os especialistas recomendam que o Brasil mantenha uma postura equilibrada e estratégica, baseada em seus interesses e valores, buscando um crescimento econômico sustentável e contribuindo para a construção de consensos no âmbito multilateral.
Fonte: CEBRI