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O Hamas e a Teoria dos Jogos – Artigo de colaborador: Daniela Kresch

É uma ilusão acreditar que o cessar-fogo entre Israel e o Hamas é o começo de um acordo de paz

por Sociedade Militar
27/11/2023
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TEL AVIV – É uma ilusão acreditar que o cessar-fogo entre Israel e o Hamas – e a troca de reféns israelenses por detentos palestinos – é o começo de um acordo de paz após quase dois meses de uma guerra. O jogo é outro. O otimismo é entendível, mas, infelizmente, a guerra está longe de terminar. O cessar-fogo em vigor agora (no momento em que escrevo estas linhas, domingo, 26 de novembro) é apenas uma trégua tática para o Hamas e a necessidade moral para Israel de reaver os mais de 240 reféns originalmente sequestrados em 7 de outubro diante de sua opinião pública.

Quem acredita nas boas intenções desse grupo terrorista brutal ao propor essa parada deve acreditar também no Papai Noel e coelhinho da Páscoa. O Hamas apelava para um cessar-fogo há semanas por estar abalado com a perda de controle do Norte da Faixa de Gaza após a incursão terrestre do exército israelense. De seus cerca de 30 mil combatentes, mais de 5 mil foram mortos por forças israelenses. Boa parte de seu arsenal de foguetes, mísseis, metralhadoras e outras armas de fogo foi destruído ou apreendido por Israel.

O Hamas precisava de tempo para se reorganizar, retirar líderes e combatentes do Norte de Gaza, nomear novos líderes e distribuir armamentos para os sobreviventes do grupo. Para isso quis o cessar-fogo. Nada mais. Reparem que em momento algum escrevi que o Hamas tem interesse numa trégua para salvar vidas de palestinos. Não tem. Quanto mais mártires, melhor, assim vencerá Israel também na arena midiática.

israel consulate, Wilshire Boulevard, Los Angeles, CA, USA – Image unsplash

Para Israel, por outro lado, a parada no avanço das tropas em Gaza é uma péssima notícia, estrategicamente falando. O momentum da incursão terrestre é interrompido, deixando os soldados israelenses que estão dentro do território vulneráveis a ataques-surpresa de terroristas que decidam violar o cessar-fogo (e sempre é o Hamas que viola cessar-fogos desde o primeiro conflito com Israel, em 2008).

O único interesse de Israel, neste momento, é a retirada dos reféns por uma obrigação moral em relação a seus cidadãos, mesmo que isso signifique retroceder em seus objetivos militares e políticos: destruir a infraestrutura do Hamas e acabar com o governo tirânico desse grupo terrorista, que não só ameaça e ataca Israel desde 2008 como mantém 2 milhões de palestinos sob sua mão de ferro.

Mas, esse retrocesso na campanha militar de Israel é polêmico e, por isso, o acordo de cessar-fogo é criticado internamente por alguns israelenses que julgam ser um erro. Em troca de 50 ou 80 reféns, Israel estaria colocando a perder a oportunidade de acabar com as capacidades paramilitares do Hamas de uma vez por todas, após anos de ataques com foguetes e o terrível pogrom de 7 de outubro.

Mas, esses críticos são minoria. A maioria dos israelenses precisava reaver e rever os reféns. A moral do país, tão em baixa há quase dois meses em meio a tantas lágrimas e preocupação, precisava ser elevada. Além disso, os líderes de Israel precisavam cumprir o acordo tácito que têm com o público: nunca deixar ninguém para trás, nem civis nem militares.

Para o Hamas, no entanto, o objetivo do cessar-fogo é apenas um: rearmamento para uma nova rodada de ataques contra Israel. Para ele e todos os outros grupos jihadistas fundamentalistas (como Jihad Islâmica, Hezbollah, Estado Islâmico, Al Qaeda, Talibã, Boko Haram, Houthis e outros), o conceito de trégua é diferente. Não se trata de uma desaceleração das hostilidades com o objetivo, quem sabe, de negociar um acordo para o fim dessas hostilidades. Não. Cessar-fogo é um conceito previsto no Alcorão com a finalidade de reagrupar as tropas para a próxima fase da guerra.

O Hamas e seus pares não entendem a noção de “win-win situation“, em que os dois lados possam terminar um conflito após fazerem concessões, mas conseguindo algumas vitórias. Quer dizer: nada de negociações e acordos de paz. Acreditam apenas no chamado jogo de “soma-zero”, a vitória completa de um lado sobre o outro. A guerra só termina quando um dos lados obliterar o outro, varrê-lo da face da Terra. E nem que isso demore décadas, séculos. Milênios.

Não é à toa que um dos líderes do Hamas, Ghazi Hamad, disse em uma recente entrevista a uma TV libanesa que o Hamas repetirá o massacre desumano de 7 de outubro, no qual mais de 1.200 pessoas foram cruelmente massacradas, “até que Israel seja aniquilado”.

A ideia de uma resolução em que os dois lados consigam alguma melhoria, mas sem vencer totalmente o outro, é previsto pela Teoria de jogos, ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas onde “jogadores” escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar seu retorno. O melhor para cada jogador é vencer totalmente o outro lado. Mas, em caso de isso não ser possível ou correto, a segunda opção melhor é o empate. Perder seria a terceira e pior opção.

Para o Hamas, a opção do empate não existe. A possibilidade de parar com o ódio fundamentalista contra os judeus, admitir a existência do Estado de Israel 75 anos depois de sua independência e, quem sabe, fazer uma aliança que transformasse a Palestina e a região inteira numa Dubai não existe. Para o Hamas, a opção de que tanto Israel quanto os palestinos vivam em paz, com Estados nacionais próprios e independentes, não existe.

Os terroristas, enlouquecidos por anos de doutrinação antissemita e conspiratória e promessas de riqueza e honra caso matem ou sequestrem “infiéis”, só consideram duas possibilidade “soma-zero”: ganhar ou perder tudo. E se perderem, se tornarão mártires. Na verdade, isso também seria uma vitória.
 

Como participantes do famoso “jogo da galinha”, o Hamas aperta no acelerador de um carro imaginário que vai em direção a um caminhão enorme e muito mais poderoso (Israel) que vem do outro lado de uma estrada. E mesmo que seu carro esteja repleto de palestinos inocentes, o Hamas não se importa em acelerar.
 

Cabe ao caminhão ter o bom senso que falta ao outro lado, diminuindo ao máximo o número de vítimas desse jogo real e mortal. Parar o caminhão sem cair no precipício e sem matar todos os que estão no carro rival requer uma estratégia corajosa e extremamente difícil. Requer saber que uma vitória total e completa de qualquer lado é impossível. Derrubar o Hamas, sim. É interesse de todos, principalmente dos próprios palestinos. Mas, o resultado dessa guerra deveria ser um “win-win situation“. Dois Estados para dois povos vivendo lado a lado, em paz e cooperação.
Por Daniela Kresch é correspondente do Instituto Brasil-Israel (IBI)em Tel Aviv; jornalista há mais de 20 anos em Israel. Publicado em Revista Sociedade Militar

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