Comboio diplomático brasileiro é abordado por rebeldes na Síria: “Foi um alívio chegar ao Líbano”, relata embaixador
A saída do comboio diplomático brasileiro da Síria não foi apenas uma operação delicada. Foi sobretudo uma fuga desesperada de um cenário de guerra. O embaixador do Brasil na Síria, André dos Santos, descreveu em detalhes os momentos tensos vividos enquanto deixava o país, no meio de uma revolta violenta contra o regime de Bashar al-Assad. Para um país que há anos tenta equilibrar sua diplomacia entre interesses econômicos e a defesa de direitos humanos, o episódio escancara as fragilidades de operar em uma zona de conflito.
De acordo com Santos, o comboio brasileiro foi abordado por rebeldes enquanto ainda estava no complexo da embaixada, dentro da Síria. Segundo o embaixador, “quando justamente nós estávamos saindo do complexo da embaixada, colocando as malas no carro, fomos abordados por aproximadamente dez rebeldes que se identificaram como membros do HTS (Hay’at Tahrir al-Sham). Eles começaram a fazer perguntas. Isso tudo terá durado 10 minutos mais ou menos. Eles consentiram com a nossa saída”. As informações são do Jornal Nacional.
Embora o encontro tenha terminado sem violência, a situação geral era outra. De acordo com o embaixador, “ao longo desse trecho, nós vimos cenas de guerra. Caminhões com sistema antiaéreo completamente carbonizados, carros destruídos. Quando nós chegamos no lado libanês, foi um alívio geral, algumas pessoas se emocionaram”.
Reabertura da embaixada? Só se o inferno esfriar
O Itamaraty foi rápido em soltar um comunicado diplomático padrão, afirmando que a reabertura da embaixada em Damasco vai depender do “nível de segurança” na região. Ou seja: a embaixada provavelmente vai ficar fechada por um bom tempo. Desde o início da guerra civil, em 2011, a Síria virou um caldeirão de interesses internacionais, facções armadas e destruição em larga escala. O conflito já matou centenas de milhares e deslocou milhões. No entanto, no meio desse caos, o regime de Assad continuou de pé, apoiado por Rússia e Irã.
Enquanto isso, a decisão do Brasil de manter um embaixador na região até agora levanta questões. Apesar de o governo insistir que a presença diplomática era essencial para apoiar cidadãos brasileiros e reforçar o diálogo com o regime sírio, críticos apontam que a postura brasileira ignora as acusações de crimes contra a humanidade cometidos pelo governo Assad. A retirada do comboio brasileiro da Síria de forma tão improvisada reforça essa crítica. Afinal, como garantir a segurança diplomática em um lugar que é, literalmente, uma zona de guerra?
A polêmica do Hay’at Tahrir al-Sham (HTS)
Os rebeldes que abordaram o comboio brasileiro na Síria pertencem ao Hay’at Tahrir al-Sham, um grupo que muitos classificam como sucessor da Al-Qaeda na Síria. Embora o HTS tenha rompido oficialmente com a rede terrorista, sua ideologia continua sendo radical, e a região sob seu controle, no norte da Síria, é marcada sobretudo pela violência e instabilidade. O fato de diplomatas brasileiros terem sido questionados e liberados sem maiores incidentes levanta suspeitas. Afinal, foi sorte, ou o Brasil mantém algum tipo de canal informal com grupos que, oficialmente, são classificados como terroristas? É uma questão que ninguém deseja responder, aparentemente.

Governo improvisa canais de comunicação após saída do comboio de brasileiros na Síria
Com a embaixada em Damasco fechada, o atendimento a brasileiros na Síria está sendo feito de maneira improvisada em Beirute, capital do Líbano. O embaixador afirmou que “novos canais de comunicação” se abrirão eventualmente para atender os cidadãos que permanecem na região.
Para o Brasil, este episódio é mais um lembrete de que atuar em zonas de conflito não é só difícil, mas sobretudo, perigoso. Se há algo que o comboio diplomático brasileiro deixou claro, é que qualquer operação na Síria vai sempre caminhar sobre um terreno minado, seja literal ou metaforicamente.