A paz nos oceanos está em xeque. Um novo incidente no estreito de Taiwan reforça temores de uma escalada da guerra híbrida global, com China e Rússia no centro das atenções. O episódio ocorre em meio a crescente tensão geopolítica e após incidentes semelhantes no Mar Báltico, onde o navio chinês Yi Peng 3 também foi acusado de danificar cabos sob supostas ordens da inteligência russa.
No dia 3 de janeiro de 2025, o navio Shunxin 39, com bandeira de Camarões, causou danos a um cabo de telecomunicações vital para Taiwan, gerando alerta nas autoridades marítimas locais e reavivando tensões geopolíticas em torno das infraestruturas críticas submarinas. A Guarda Costeira de Taiwan detectou a interferência no cabo da Chunghwa Telecom, uma das principais redes de comunicação da ilha, que serve de ponto estratégico nas disputas regionais. O cabo afetado foi rapidamente redirecionado para sistemas de backup, mas o dano alimenta o clima de desconfiança entre potências globais.
Esse não é o primeiro incidente envolvendo cabos submarinos nos últimos anos. Cabos como esse, essenciais para a comunicação global, estão no centro da competição estratégica entre Estados Unidos, China, Rússia e OTAN, evidenciando a fragilidade das infraestruturas digitais que sustentam a conectividade mundial. Segundo o site Militarnyi, essa não é a única ocorrência envolvendo navios chineses em águas internacionais. O navio Yi Peng 3 foi apontado como responsável por danificar cabos no Mar Báltico, região crucial para a comunicação entre Europa e o restante do mundo.
Cabos submarinos: alvo de uma guerra híbrida?
A situação expõe um cenário cada vez mais tenso, onde cabos submarinos, que transportam 99% do tráfego global de internet, tornaram-se alvos de sabotagem estratégica no que muitos analistas chamam de “guerra híbrida”. A tensão entre os Estados Unidos e a China, exacerbada pela crescente militarização do Mar do Sul da China e pela rivalidade nas águas do Báltico, destaca a vulnerabilidade das infraestruturas críticas. Esses cabos são essenciais para a comunicação entre os Estados e são, portanto, alvos estratégicos em uma guerra que vai além dos campos de batalha tradicionais. No caso do dano em Taiwan, as autoridades locais estão tratando o incidente com cautela, mas o evento se insere em um contexto mais amplo de disputas por poder geopolítico, especialmente no contexto da crescente influência da China e da rivalidade com os EUA.

De acordo com o site Defesa Aérea e Naval, o episódio envolvendo o Yi Peng 3 no Mar Báltico, que danificou cabos submarinos essenciais para a comunicação entre a Europa e o restante do mundo, mostra como a militarização de áreas onde esses cabos se encontram está se intensificando. Em 2024, o Yi Peng 3, que passou a frequentar portos russos como Murmansk e Ust-Luga, foi acusado de danificar cabos cruciais para a conectividade europeia, e suspeita-se que as ações de sabotagem possam ter sido coordenadas com a inteligência russa.
A situação fica ainda mais delicada com a confirmação de que a corveta Merkury da Frota Russa do Mar Negro esteve envolvida no reconhecimento da área, oferecendo suporte e transmitindo informações ao comando russo em Kaliningrado. O movimento do navio chinês Yi Peng 3 nas águas do Báltico parece ter sido orquestrado sob essa aliança estratégica entre Pequim e Moscou, o que evidencia a natureza complexa dos conflitos modernos, onde os interesses de grandes potências se entrelaçam de maneiras inesperadas.

A nova guerra submarina
Enquanto a militarização de cabos submarinos e a crescente atenção voltada para sua segurança se intensificam, a questão que se coloca é até que ponto as potências globais estão dispostas a levar essas tensões. O almirante da reserva Antônio Ruy de Almeida Silva, em artigo para o Defesa Aérea e Naval, destacou a importância dos cabos submarinos não apenas para a comunicação, mas como peças-chave na manutenção do equilíbrio de poder entre grandes nações. A disputa por essas infraestruturas é um reflexo direto da competição pelo controle do tráfego global de dados, que movimenta trilhões de dólares diariamente.
O impacto de um ataque coordenado a esses cabos poderia ser devastador para a economia global, mas, por enquanto, a maioria dos danos permanece como incidentes pontuais. Mesmo assim, a natureza estratégica dos cabos submarinos coloca os danos a esses sistemas como uma das principais preocupações para a segurança nacional dos países envolvidos. O coronel da reserva do Exército português Luís Bernardino, especialista em Relações Internacionais, afirmou que a sabotagem de cabos submarinos é um reflexo de uma guerra sem rosto, em que as ações são difíceis de identificar e de provar.