RSM - Revista Sociedade Militar
  • AO VIVO
  • Página Inicial
  • Últimas Notícias
  • Forças Armadas
  • Defesa e Segurança
  • Setores Estratégicos
  • Concursos e Cursos
  • Gente e Cultura
RSM - Revista Sociedade Militar
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Início Gente e Cultura

“Destruíram Nova York”: como a tragédia do World Trade Center me fez rever meus valores; o dia em que a brutalidade terrorista me fez repensar o mundo

Todo mundo com idade suficiente se lembra mais ou menos de onde estava e o que fazia naquele fatídico dia.

por Rafael Cavacchini
12/09/2024
A A
Explosão na Torre Sul após impacto do Boeing 767 do Vôo 175 da United Airlines. Foto: Reprodução

Explosão na Torre Sul após impacto do Boeing 767 do Vôo 175 da United Airlines. Foto: Reprodução

O segundo avião atingiu a torre sul por volta das 09:03, hora local. Aqui no Brasil, na minha cidade, era 1 hora depois, pouco mais de 10 horas da manhã.

Todo mundo com idade suficiente se lembra mais ou menos de onde estava e o que fazia naquele fatídico dia. Eu era muito jovem, um garoto de apenas 15 anos de idade. Naquela época, éramos mais ignorantes com relação ao mundo, não apenas porque não tínhamos idade pra compreendê-lo, mas também porque éramos todos, de fato, bastante mal informados sobre tudo.

A internet mal engatinhava por aqui e o acesso à todo tipo de informação – e opinião – era muito restrito.

Eu estava, claro, em idade escolar, mas minha aula era à tarde, somente após as 12:30. Nunca cheguei a ir à escola naquele dia, no entanto. Ninguém foi. Aquela manhã foi muito marcante, pra todos nós, de muitas formas diferentes.

Muita coisa aconteceu comigo no dia 11 de setembro de 2001.

“Destruíram Nova York”

Eu me lembro de ter acordado com a ligação de uma tia. Ela dizia, aos berros, à minha mãe no telefone: “Destruíram Nova York! Destruíram Nova York!”. Minha mãe sempre foi uma mulher muito forte, muito centrada, mas sua expressão de espanto foi tal que acabou contaminando à todos na casa. Ela parecia realmente acreditar naquilo. E assim todos nós acreditamos.

Ligamos a TV. A frase “destruíram Nova York”, é claro, era um exagero. Mas, em 11 de setembro de 2001, não parecia hipérbole em absoluto. De olhos grudados na televisão, víamos imagens de todos os ângulos, em todas as velocidades, do avião atingindo a torre sul. Eram cenas muito, muito chocantes.

Momento do impacto na torre sul, às 09:03. Foto: Reprodução

Passamos o resto do dia grudados na frente da televisão. Grudados. Parecíamos aquelas pessoas do filme “O Show de Truman”, que mal conseguem piscar enquanto olham pra tela, sabe?

Foi um dia que praticamente não existiu. Passamos o dia atrás de informações, tentando entender o que aconteceu, quem eram os responsáveis, como aquilo havia sido executado. Estávamos muito impressionados com a surrealidade dos fatos. Ninguém nunca havia pensado, nem mesmo os especialistas militares mais conceituados do mundo, que algo como aquilo era possível de ser feito.

Eu, um adolescente

Me lembro de ter sentido sensações mistas, principalmente nas primeiras horas. Como a maioria dos adolescentes da época, eu era antiamericanizado até o último fio de cabelo. Como disse, nós crescemos realmente com muito pouca informação sobre o mundo em geral, sobretudo nós, oriundos de escolas públicas.

O que aprendemos desde pequenos é que os americanos eram um mal para o mundo, como um todo. E tratavam-se sobretudo um mal que precisava ser combatido e repelido a qualquer custo, e com urgência.

O ensino escolar colaborava muito nesse sentido. Tudo na escola era bastante enviesado sobre o assunto: os professores acreditavam cegamente que os americanos eram os responsáveis por tudo de ruim que acontece no mundo, fazendo um esforço desproporcional para incutir isso na cabeça das crianças e adolescentes. Ser antiamericano, portanto, era incentivado pelo sistema, além de fazer você parecer cool entre os jovens. O antiamericanismo, portanto, era ao mesmo tempo mainstream e um ato de rebeldia.

Por isso, quando finalmente soube que era um ataque, admirei o que achava que era um ato de coragem dos envolvidos. Achava, de uma maneira um tanto deturpada, que quem quer que tivesse executado aquilo, tinha feito um plano muito bem elaborado. Teria sido, com certeza, arquitetado por um supervilão desses que a gente vê nos filmes do 007. Um sujeito bilionário, de monóculo, com um ódio imensurável dos Estados Unidos, mas que certamente era justificável, sob seu ponto de vista.

Por um momento, cheguei a pensar que era uma atitude de um país, entidade ou pessoa que finalmente deu aos Estados Unidos o que eles mereciam: justiça. E, portanto, na minha jovem cabeça, tratava-se de uma atitude nobre.

Oh, eu estava errado. Muito, muito errado.

Conforme os dias se passaram e as informações começaram a ficar mais claras, gradualmente passei a entender a real gravidade daquela situação. Aos poucos, a sensação de que, afinal, a justiça havia sido feita contra os opressores, foi se dissipando. Nos próximos dias, minha opinião se reverteria. A medida que as imagens, os vídeos, os depoimentos, vinham chegando a nós, me pareceu cada vez menos que aquilo havia sido um ato corajoso, nobre, ou justo.

“O mundo mudou hoje. O que eu digo ou faço é muito pequeno comparado ao significado do que aconteceu com nosso país hoje quando ele foi atacado.”, declarou o Comandante da Expedição 3 na Estação Espacial Internacional, Frank L. Culbertson, ao saber do ataque. Foto: Reprodução

Nos dias subsequentes, compreendi o quanto tudo aquilo foi, na verdade, um ato brutal sobretudo de covardia, deliberado, contra civis desarmados. E tive noção da dimensão de quanto aquilo tudo causou a destruição de inúmeras famílias que nada tinham a ver com a causa que esses terroristas representavam.

Fui de antiamericano ferrenho à defensor daquelas pessoas, daquelas famílias, daquele país, que tão brutalmente e covardemente havia sido atacado por um inimigo que sequer teve a decência de declarar-se beligerante.

Aquilo, certamente, nada tinha a ver com os valores que eu defendia.

Nada.

Percebi, afinal, que o mundo era além do preto-e-branco que eu via na minha adolescência. Que era muito mais do que “os americanos são maus e todo o resto é bom”. Entendi que há pessoas más e entidades mal intencionadas no mundo todo. E, mais do que isso, compreendi que ser antiamericano fazia tanto sentido quanto ser “antieuropeu”, “anti-asiático”, “anti-católico”, “anti-brancos”…

Compreendi que não se pode rotular as pessoas baseadas nas atitudes dos seus governantes, da sua elite. E que não se pode julgar um povo inteiro quando a única coisa que realmente compartilham entre si é sua posição geográfica relativa no mundo.

Vista aérea do marco zero e arredores. Foto: Reprodução

Porque, vejam bem, o incidente me fez perceber que os Estados Unidos, não era uma entidade uniforme, única, formada por porcos capitalistas malignos, engravatados mesquinhos de Wallstreet e senhores da guerra sedentos por petróleo. Ao contrário. Era, na verdade, um país com uma diversidade infinita de pessoas, exatamente como o nosso. Um país formado por cidadãos capazes de se arriscar pra defender os seus, onde também há intenções nobres, preocupação com o próximo, luta por igualdade, justiça e união. Talvez mais ainda do que no meu próprio país.

O ataque ao World Trade Center nos mostrou que os americanos não eram inerentemente perversos, mesquinhos ou imperialistas.

Eram apenas humanos, como nós. Eles também tinham problemas. Também eram frágeis. Também tinham seus sonhos, suas paixões e suas famílias. E que, longe do que a mídia anti-americana pinta(va), os americanos eram, sim, e ainda são, capazes de gestos grandiosos de amor e de bondade.

Antes do ataque, provavelmente haviam mais anti-americanos como eu. Mais gente com seus próprios motivos pra odiar e esculhambar os Estados Unidos.

No entanto, os terroristas humanizaram o “inimigo“. Entendemos que, afinal, éramos mais parecidos do que nos faziam acreditar. E aí nós nos identificamos com seus valores e nos compadecemos da sua dor.

Eu sou uma das inúmeras razões pelas quais os terroristas perderam.

Memorial 11 de Setembro em Nova York. Foto: Divulgação

Revista Sociedade Militar

Ver Comentários

Artigos recentes

  • Às vésperas de conferência internacional sobre o crime, sociedade organizada exige: “não queremos só sensação de segurança — queremos segurança de verdade” 16/05/2025
  • Indústria bélica brasileira à beira do colapso: Principal credor da Avibras revela plano audacioso para comprar a gigante bélica e saldar dívidas milionárias 16/05/2025
  • EUA testam arma invisível nas Filipinas e mostram ao mundo um novo tipo de guerra silenciosa: Tecnologia é capaz de acabar com enxames de drones sem disparar um unico tiro 16/05/2025
  • Operação Roca: Argentina desafia fronteiras, mobiliza 10 Mil militares e envia Forças Armadas para Brasil, Paraguai e Bolívia, ação surpreendente e sem aviso prévio aos países vizinhos 16/05/2025
  • Do futuro para o campo de batalha: torre com IA, sensores térmicos e canhão remoto transforma o blindado brasileiro Guarani em uma máquina de guerra inteligente 16/05/2025
  • A nova fronteira da guerra: Rússia está recrutando combatentes do mundo inteiro com vídeos no TikTok para fortalecer sua força na guerra da Ucrânia 16/05/2025
  • Escassez de armas modernas força soldados a usarem relíquias da Primeira e Segunda Guerra Mundial no conflito da Ucrânia: a crise velada da falta de armamentos e os riscos do prolongamento da guerra. 16/05/2025
  • Alerta vermelho Mundial: Corrida armamentista global bate US$ 2,7 trilhões em 2025 e Brasil se afasta das potências, revelando fragilidade militar 16/05/2025
  • Brasileiros no front: os combatentes anônimos que desafiam a morte em uma guerra que não é sua 16/05/2025
  • Concurso Escola Naval 2026: inscrições prorrogadas! Mais uma chance para se tornar Oficial da Marinha 16/05/2025
  • Sobre nós
  • Contato
  • Anuncie
  • Política de Privacidade e Cookies
- Informações sobre artigos, denúncias, e erros: WhatsApp 21 96455 7653 não atendemos ligação.(Só whatsapp / texto) - Contato comercial/publicidade/urgências: 21 98106 2723 e [email protected]
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Conteúdo Membros
  • Últimas Notícias
  • Forças Armadas
  • Concursos e Cursos
  • Defesa e Segurança
  • Setores Estratégicos
  • Gente e Cultura
  • Autores
    • Editor / Robson
    • JB REIS
    • Jefferson
    • Raquel D´Ornellas
    • Rafael Cavacchini
    • Anna Munhoz
    • Campos
    • Sérvulo Pimentel
    • Noel Budeguer
    • Rodrigues
    • Colaboradores
  • Sobre nós
  • Anuncie
  • Contato
  • Entrar

Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.