O Comandante do Exército, General Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, aproveitou seu discurso na cerimônia pelo Dia do Exército realizada em Brasília nesta quarta-feira, 16 de abril, para falar sobre o cenário beligerante em que o mundo se encontra. A data acontece oficialmente no dia 19 de abril.
Segundo Paiva, o mundo passa por uma transformação rápida e profunda em suas estruturas geopolíticas tradicionais.
“Os investimentos em defesa vêm crescendo exponencialmente em todas as regiões do globo, uma realidade que sugere ao nosso País atenção redobrada em relação à proteção dos brasileiros e dos ativos consagrados pela Constituição”.
No discurso, o Comandante do Exército ainda disse que “a defesa nacional precisa estar preparada para enfrentar ameaças híbridas, difusas e multidimensionais, que não se manifestam claramente como os conflitos convencionais do passado”.
Qual a situação do Brasil na Defesa?
Na contração do mundo, o orçamento de 2025 do Brasil traz um aumento real de apenas 0,8% nos recursos destinados à Defesa em relação a 2024, passando de R$ 135 bi para R$ 136,4 bi.
Para Carlos Eduardo Martins, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o Brasil precisa ter um gasto mais qualificado no setor.
“O Brasil, além de gastar pouco em defesa, gasta mal: 78% dos gastos se dirigem a pagamento de pessoal, enquanto na OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] essa rubrica é bem mais baixa, em torno de 50%, o que contribui para a obsolescência tecnológica de nossas Forças Armadas”.
O especialista acredita também que estejamos em um período complicado da história.
“Penso que estamos vivenciando um período irreversível de declínio à unipolaridade e possível transição para a multipolaridade, que gera conflitos, resistências e riscos de conflitos locais com alto potencial de espalhamento e difusão”.
Para os professores de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Gunther Rudzit e Leonardo Trevisan, as Forças Armadas Brasileiras não estão aptas a sustentar uma guerra moderna. A afirmação foi feita em artigo de opinião conjunto publicado no jornal O Globo em 5 de abril, por meio do qual também chamaram atenção dos políticos brasileiros para a criação de base industrial de defesa própria.
“Se a classe política não tomar a iniciativa de fazer tais alterações, como aconteceu em todos os países desenvolvidos e democráticos, talvez tenhamos de fazê-lo após uma derrota militar. Isso custará muito mais caro, tanto em vidas quanto em interesses nacionais. Sem esquecer, obviamente, o custo financeiro de colocar a tranca depois da porta arrombada”.
Marinha do Brasil admitiu que tem capacidade insatisfatória
No relatório de gestão 2024 divulgado em 8 de abril, a Marinha admitiu que as capacidades operativas que conquistou não satisfazem as capacidades militares desejadas pelo Ministério da Defesa e elencou os 4 principais riscos que corre: baixo orçamento, defasagem tecnológica, fuga de pessoal e perda de prioridade entre os programas estratégicos do governo federal.
Segundo o empresário brasileiro Rodrigo Torres, que comanda as finanças globais do Edge Group, um dos maiores conglomerados de tecnologia bélica e de defesa do mundo, o Brasil precisava do quádruplo de fragatas que está construindo. A afirmação foi feita em entrevista à Folha de São Paulo.
“Com a Marinha, são 4 fragatas em construção, mas, pelo tamanho do Brasil, era preciso 16. No caso dos Gripen, é a mesma situação”.
As fragatas que o executivo do Edge Group se refere são as da Classe Tamandaré, cuja construção teve início em 2017 e deve se arrastar até 2029.
Elas foram nomeadas de Fragata Tamandaré (F200), Fragata Jerônimo Albuquerque (F201), Fragata Cunha Moreira (F202) e Fragata Mariz e Barros (F203).
Segundo a Marinha, as embarcações têm significativo poder de combate e são capazes de ser empregadas em missões de defesa, como unidades de busca e ataque a submarinos.
Forças Armadas perderam mais de 22 mil militares nos últimos anos
Dados levantados pelo portal Revista Sociedade Militar junto ao Ministério da Defesa mostram que de 2020 a 2024, as Forças Armadas tiveram uma redução de 22,3 mil militares. O contingente era de 381,8 mil militares em 2020, mas passou para 351,7 mil militares em 2024, o que representa queda de 6,4%.
O Exército lidera a diminuição de contingente em números absolutos, com 10,4 mil integrantes a menos. A Aeronáutica vem em seguida, com 6 mil e, por fim, a Marinha com diminuição de 5,8 mil militares.
Em números proporcionais, a FAB é a principal afetada. A Força Aérea teve diminuição de efetivo de 7,54%, enquanto na Marinha esse número foi de 6,92% e no Exército de 4,73%.
A diminuição não é uma fatalidade, mas proposital. Ao menos, foi o que deu a entender o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 10 de fevereiro deste ano.
Quando questionado pelo jornalista Cézar Feitosa, da Folha de São Paulo, de por que o Brasil aumentou o contingente militar em 26% desde a criação do Ministério da Defesa em 1999 enquanto países como França e Reino Unido reduziram em 36% e 27%, respectivamente – devido à aposta maior em tecnologias -, o ministro negou que a nação verde e amarela seguia na contramão.
“Marinha já diminuiu, Aeronáutica já diminuiu e Exército também já diminuiu”.
De acordo com o professor e coordenador do curso de pós-graduação em Estudos Estratégicos e Relações Internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense), Eduardo Heleno, a diminuição do efetivo pode acontecer a partir do momento em que os países têm uma capacidade tecnológica melhor.
“A tendência hoje, dependendo da operacionalidade da Força e da missão, é que os equipamentos tenham mais tecnologia e possam ser operados com uma quantidade menor de militares. Então, um navio que hoje tem uma tropa de 100 militares só para operar, por exemplo, no futuro pode ter uma quantidade menor de pessoas atuando. Então, o aumento da tecnologia pode levar à redução de efetivo sim”.
Brasil está investindo em viaturas blindadas e mísseis
Apesar do arrocho das finanças, o Brasil tem investido em novos meios de defesa, sendo exemplos disso as novas viaturas Guarani, Guaicurus e os mísseis Spike LR2 e Max 1.2 AC.
Todos equipam a 1ª Companhia Anticarro Mecanizada, inaugurada no final do ano passado, que pode ser rapidamente deslocada por aeronaves para qualquer parte do país.